Professor Anésio Azevedo busca ampliar e
experimentar expressões artísticas
Uma ideia que se transforma num conceito poético; uma pergunta ou uma impressão sobre algo que encanta e o questionamento sobre como poderia ser criada uma espécie de “narrativa sonora”. Estas são apenas algumas das etapas criativas de todo músico que se preze. Com o professor de Filosofia, artista visual e multimídia, Anésio Azevedo, não é diferente. No caso dele, tais processos se acrescentam ao início da fase de exploração de sons, baseada na sua biblioteca de sintetizadores digitais, em experimentações voltadas ao audiovisual e à música ambiente do seu mais recente projeto, o ‘stellatum_’, disponibilizado nas plataformas digitais.
Artista dedicado à sua obra, Azevedo leva horas explorando combinações
sonoras distintas e diversas dos sintetizadores. “É a parte mais importante e
demorada. Neste momento, busco por sons que ora se contrapõem, ora se
complementam” – ressalta o professor, que nunca sabe, na verdade, o resultado
estético que pode fluir dessas buscas:
Foto: arquivo do professor Anésio Azevedo |
Superadas essas etapas, Sinésio cria melodias e harmonias que, se não
entram na composição, poderão nutrir outras ideias futuramente. “Esse
momento é, talvez, o mais rigoroso, dado que é onde a estrutura da música se
desenvolve” - complementa.
Música ambiente
Para Anésio, a ideia de fazer música ambiente surgiu a partir de uma
tentativa de gravar paisagens sonoras e criar espaços para a escuta, com o
auxílio de tecnologias criativas.
“De certo modo, comecei a me interessar por texturas sonoras ao começar a ouvir Black Metal. Além disso, tenho fortes influências do Posthuman Tantra, projeto musical de um grande amigo, o Ciberpajé Edgar Franco” (foto).
Foto: ciberpaje.blogspot |
Audiovisual
Mineiro de Ituiutaba e residente em Votuporanga (SP),
Anésio Azevedo desenvolveu
suas pesquisas de mestrado e doutorado na Universidade de Brasília (UNB),
construindo, na capital federal, importantes amizades.
UNB. Foto: Bento Viana |
Uma delas com o músico, DJ, regente e inventor Eufrasio Prates (foto), que
fundou e rege a Orquestra de Laptops de Brasília (BSBLOrk), da qual faz parte
desde 2020.
Foto: Youtube |
O trabalho audiovisual do artista começou na qualificação de doutorado. A ideia era evocar características sonoro-visuais do Cerrado, para um ambiente criado a partir de uma categoria de linguagem que soma som e imagem.
Ele denominou a relação entre o ambiente criado e as paisagens locais
como “ambientes expandidos”, tocando ao vivo composições sonoras que serviam de
trilha para as vídeo-artes que criava, a partir de suas caminhadas. Neste
sentido, imagem e som se tornaram materiais essenciais nos trabalhos:
“A junção poética entre ambas me pareceu a melhor forma de ampliar a
imersão no ambiente que eu estava criando. Meu trabalho não pode ser dissociado
dessa prática artística”.
Desafios na música e na academia
Foto: IDMIL |
Escutar não é o mesmo que ouvir. A escuta demanda uma postura ativa, de acionar o sistema auditivo em relação ao universo dos sons, em toda sua magnitude. Essa postura ativa talvez seja necessária em outros estilos, como a música drone e a minimalista, das quais a música ambiente é descendente direta.
Mas afinal, quais são os desafios de se fazer essa categoria de arte — digamos, underground —, no Brasil? Trata-se, para Azevedo, de uma “questão necessária e precisa”. O artista faz uma reflexão acerca desse questionamento, citando um texto de 2016, denominado “Existe uma indústria de heavy metal no Brasil?”, publicado no site da Overload, uma das maiores produtoras de música do país. “Este trecho do texto faz um apontamento pertinente sobre a música pesada, que poderia ser perfeitamente estendido para toda a indústria da música nacional” — destaca:
(...) “A indústria da música pesada no Brasil é ineficiente e defasada. Absolutamente todos os membros da cadeia não funcionam como deveriam: mídia, gravadoras, produtoras, agências, bandas, etc. O resultado é um público desinformado e desinteressado por novidades, bandas medíocres, mídia inexpressiva e gravadoras inúteis”.
Na avaliação do artista, a análise da Overload é “muito contemporânea”. Ele destaca ainda que há uma
grande dificuldade na formação de um público que consome música ambiente e seus
derivados no Brasil. “Muitas pessoas tendem a associar esse estilo à "música zen”,
àquela música “boa”, para dormir. Quando dizem isso de minhas composições e de
artistas influentes em meu processo, por exemplo, sinto que as pessoas nem sequer se puseram a ter uma postura de escuta atenta e profunda” — questiona-se Sinésio,
que acredita na formação de um público para definir uma “cena”:
“Isso é fundamental! Outro fator importante é a junção de artistas em torno de um motivo estético, uma mídia especializada e festivais. A América Latina é um antro profícuo de música drone/ambient/noise/industrial. Temos, no Brasil, ótimos artistas. Gente como Felipe Ayres, Carlos Ferreira e Bemônio. Seria ótimo se a arte deles chegasse ainda mais a um público ávido por novidade”.
Como professor de Filosofia, Anésio Azevedo busca fazer de sua prática
pedagógica uma continuidade de suas pesquisas artísticas. E tem conseguido resultado,
através do Grupo de Estudos e Pesquisas em Imersividade e Ambientes Expandidos
(GEPIAE), onde há alunos pesquisadores e a constante tentativa de emplacar
recursos financeiros para incentivar ainda mais novos pesquisadores:
“A Filosofia atravessa minhas reflexões e é uma ferramenta muito apropriada para refletir sobre o mundo, a natureza e a arte de modo geral. Às vezes, desanimo por conta dos recentes cortes na educação; mas vivemos um dia de cada vez. Educar também é sobre lutar”.
Apresentações on-line
Nas etapas de composição em música ambiente, Anésio utiliza o Ableton
(DAW — digital audio workstations), para criar e arranjar as trilhas. Em seguida,
quando a mixagem está pronta, finaliza com um software de edição de som, o Adobe Audition, para a realização de
uma “pré-masterização”.
Atualmente, o artista mostra o seu trabalho apenas em formato on-line, com a BSBLOrk (vídeo). Por conta da pandemia de COVID-19, ele não se apresenta ao vivo desde 2019; “mas aceito convites” – prontifica-se.
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