Após um longo intervalo, os integrantes da banda Voluntários da Pátria (VdP) haviam se reunido para shows em 2016 e 2019. Recentemente, eles reativaram a velha amizade, num grupo de Whatsapp. Papo vai, papo vem, surgiu a sugestão de gravar duas novas músicas.
Trocando arquivos e opiniões, o vocalista Nasi (Ira!) e seus amigos compuseram e gravaram, num prazo de cinco meses, a música 'Ainda Estamos Juntos', de André Barella, guitarrista da VdP, e 'O Voluntário', lançado em abril último, em comemoração ao aniversário de 40 anos do grupo, formado em 1982.
Nas letras, pode-se perceber questões sociopolíticas que inquietam a Nasi e seus parceiros de música, ontem e hoje. Nesta entrevista ao Cena da Música Independente, concedida pelo vocalista do Ira! e dos Voluntários, ele nos conta - por áudio do "zap" - um pouco sobre sua visão política e do trabalho musical compartilhado pelos integrantes do grupo. Confira!
Capa do single: Michele Vannucchi |
Apesar de ter
ido cada um para o seu lado, na letra de 'Ainda Estamos Juntos', pode-se
interpretar a utopia progressista que apregoa a máxima que diz - "Ninguém
solta a mão de ninguém"? Estamos realmente unidos e conectados, mesmo que
à distância?
Bem observado. Isso acabou entrando no logotipo. Na capa dos nossos singles, há esse símbolo, dos cinco, de mãos dadas, formando quase uma estrela. A partir da pandemia – até mesmo antes -, sempre que havia um show, montávamos um grupo no Whatsapp, que acabava se dissolvendo. No meio da pandemia, nosso grupo foi muito intenso e ainda está bem comunicativo. Nele, abordamos vários assuntos: conversamos sobre política, música... E isso, nessa comunicação, acabou gerando esse nosso trabalho.
Voluntários da Pátria 2022. Foto: mundoira.com.br |
Qual a principal
diferença que você sente em relação ao Brasil que estava saindo da ditadura,
em 1984, e o de agora? Como a atual conjuntura sócio-político-cultural influencia
na retomada dos trabalhos da Voluntários da Pátria? Existe essa conexão?
Existem muitas diferenças. Em 1984, o Brasil caminhava, ainda que a
passos lentos, a uma direção certeira: a abertura política. Havia o movimento
das “Diretas Já!”, com muita esperança no coração de todos. Hoje, a gente vive,
não só no Brasil – cinzento -, mas um mundo muito amedrontador: ameaça de
guerra mundial, desmatamento, crise climática, ameaça nuclear, reacionarismo no
país... Esse governo, que temos agora, faz do golpe a sua ladainha. Tenho
saudades do passado.
A VdP pretende regravar ou tocar ao vivo, ainda em 2022, 'O Homem Que Eu Amo', 'Cadê o
Socialismo' e 'Verdades e Mentiras', que foram censuradas na ditadura? Se sim,
qual a importância de tocá-las, hoje?
Foto: clube.gazetadopovo.com.br |
Sem dúvidas! Todas as músicas dos Voluntários, inclusive essas, que você citou, continuam muito atuais. Com relação a tocar, sim, a gente sempre esteve disposto. Temos um motivo mais concreto, que são novas canções. Quando a gente toca, tocamos todas as músicas do álbum e outras duas ou três, que já tínhamos, que tocávamos com essa formação, mas que não entraram no disco, como ‘Fúria Brasileira’, ‘Em Tua Casa’ — uma versão que a gente fez de ‘In Your House’, do The Cure — e ‘Resistência Afegã'.
Voluntários da Pátria no início dos anos 1980. Foto: mundoira.com.br |
Percebe-se muitas
semelhanças sonoras entre os Voluntários e o Ira! — em seus traços de pós-punk, new
wave, mod... Como você avalia o rock que é feito hoje, aqui no Brasil? Que
bandas mereceriam destaque? Percebo que a turma dos 80 e 90
reinventava, ao seu modo, o rock feito lá fora, tornando-o algo original,
peculiar. A garotada que está fazendo rock, hoje, por aqui, tem alguma
referência interessante ou tudo virou mero pastiche e marketing, palatável para
o entretenimento?
Tem alguns pontos em comum no Voluntários com o Ira!, mas da fase do (baterista)
Charles Gavin e do (baixista) Dino, que foi a segunda formação da banda —
anterior à mais tradicional, que gravou praticamente todos os álbuns.
Quanto a bandas novas, confesso que estou muito por fora. As coisas que escuto, hoje em dia, são antigas: rock, blues, até o início dos anos 90.
Ícone do underground
Mesclando punk, pós-punk e new wave, a banda Voluntários da Pátria foi pioneira na cena underground paulistana, nos anos 1980, adotando uma estética local própria e diferente do que se habituava a ouvir no rádio e na televisão à época.
O primeiro e único álbum, homônimo (imagem acima), foi lançado em 1984, e ganhou fama internacional em coletâneas lançadas no Reino Unido e na Alemanha, em 2005.
Dentre as canções, destacam-se 'O Homem Que Eu Amo', 'Cadê o Socialismo' e 'Verdades e Mentiras' — censuradas pela ditadura militar (1964 - 1985).
A VdP conta com Nasi, nos vocais; Thomas Pappon, na bateria; Ricardo Gaspa, no baixo; além dos guitarristas Miguel Barella e Giuseppe Frippi.
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