Foto: Luiz Phillippe Monclar (site Tenho Mais Discos que Amigos) |
João Capdeville é um cantor carioca que reproduz em seu trabalho uma bagagem cultural rica, influenciada por ritmos latinos, MPB e folk. Em turnê com o EP Pausa, produzido por Diogo Strausz (Aymoréco, Alice Caymmi, Castello Branco) o artista já se apresentou ao lado de diversos intérpretes de destaque na nova música popular brasileira, como Fernando Temporão, Donatinho, Sarah Abdala, Chico Chico, Leo Middea e outros, em passagens por eventos como Mostra Brasileiríssimos, Festival de Bandas Autorais, Sofar Sounds e Festival de Clipes e Bandas.
Com cinco faixas, o EP é um espelho das vivências de João Capdeville, que experienciou diversas culturas da América Latina e Espanha, levando estas inspirações para o álbum. O resultado é um som com traços do rock de Pink Floyd e da poesia de Cartola, que passeia com desenvoltura por uma sonoridade que remete tanto ao virtuosismo do violão de Paco de Lucía e Yamandú Costa, quanto à fluidez poética da bossa nova e da MPB de Vinícius e Chico, passando por notas de baião e samba. Confira a entrevista!
CMIND - De que forma a sua viagem a Patagônia e a Colômbia influenciaram na musicalidade do seu novo disco?
João Capdeville - Qualquer experiência sempre me afeta muito e acaba influenciando bastante na hora de ser criativo. Viajar é realmente uma atividade que intensifica muito certos aspectos que julgo importantes para compor, pois a questão das vivências é algo fundamental nesse momento. É como se o meu eu criativo funcionasse como uma espécie de peneira, onde tudo o que passei até hoje fosse posto junto e aos poucos viesse à tona em forma de arte. Portanto, essas experiências, assim como todas as outras, me influenciaram muito.
Imagem: Divulgação |
CMIND - Artistas da MPB, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa e Milton Nascimento já se juntaram a outros cantores do continente - a argentina Mercedez Sosa e o cubano Pablo Milanéz, entre outros -, em parcerias musicais. Você também vê essa possibilidade no horizonte?
João Capdeville - Por que não? Todo artista deve sonhar em um dia poder trabalhar ao lado de alguém que admire. Seria uma honra pra mim acompanhar nomes internacionais, mas meu foco primeiro é aqui no Brasil. Acho que o que me deixaria mais feliz no momento seria ver uma cena com artistas mais próximos uns dos outros e fazendo mais coisas juntos.
CMIND - Quais são as similaridades rítmicas que você percebe na música brasileira e em outros países latino-americanos? Você acredita que elas podem ser nitidamente percebidas no seu novo álbum?
João Capdeville - Tenho algumas referências latinas e não hesitei em trazê-las para perto durante a produção do disco. Acredito que, ao ouvir, será possível identificar alguns ritmos presentes nas minhas novas canções, assim como elementos de outros lugares. Costumo ouvir muita música cubana, colombiana, porto riquenha, brasileira, etc. Assim como músicas de países como EUA, Inglaterra, Portugal e Espanha. Tudo isso integra minha formação musical e representa uma parte considerável minha que sempre estará nas canções.
CMIND - Enquanto artistas como Roberto Carlos e Paralamas do Sucesso são tocados na Argentina, por aqui, a mídia prefere, ainda, divulgar, mais, a música pop dos Estados Unidos. O inglês não é tão próximo do português. Neste sentido, a tão alegada "barreira do idioma" deveria ser um impeditivo para conhecermos melhor a produção musical dos países 'hermanos'?
João Capdeville - Óbvio que não! Somos um país latino e precisamos nos reconhecer como tal ao invés de olhar sempre para o país do "progresso" e querer beber apenas das fontes de lá. É incrível a riqueza cultural que negligenciamos enquanto priorizamos referências estadunidenses de música. Eu mesmo ouço muita coisa de fora do nosso continente, e admiro artistas europeus e estadunidenses, mas não me permito nunca esquecer de tudo que temos por aqui. Isso seria um crime!
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