sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

CMIND Entrevista: Filipe Fela Montparnasse, vocalista e artista sonoro

Foto: Anderson Felix


Criado em 2012, o Felappi é um projeto musical iniciado pelo vocalista e artista sonoro Filipe Fela Montparnasse, o artista plástico Cláudio Tobinaga e o multiinstrumentista Victor Cumplido. Tudo começou com uma visão do Fela, que inseriu um contexto cinematográfico em sua música, tendo como principais influências o jazz e o punk. Resultado: o Felappi se insere na vanguarda apocalíptica do underground nacional. "Uma especie de dejeto pós-moderno. Algo que sua filha não escutaria... De fato, somos só um tipo de podridão do primeiro mundo" - enumera. Nesta entrevista, realizada em parceria com Tobinaga - que como o próprio Fela fez questão de frisar, ajudou-o a responder as perguntas -, o artista nos conta um pouco de sua trajetória. Confira!   

CMIND: Conte-nos um pouco mais sobre a sua formação musical...  

Fela: Eu não quero que as pessoas leiam vários livros para me entender, e que sejam graduadas em arte ou quaisquer outras disciplinas para poder entender o meu som... Música é um processo subjetivo e eu falo sobre o subúrbio. Arte sonora é sobre a elite, e essa elite não nos pertence... Tudo começou meio por causa de uma visão que eu tive. 

Foto: Facebook


CMIND: Como se formou sua parceria com Tobinaga e Victor? E como está sendo a repercussão do álbum "Cuidado Madame"?   

Fela: A Felappi basicamente foi um projeto que o Tobinaga abraçou. Ele me escutou (conheceu) através de um amigo em comum. Sua pesquisa em pintura era baseada em cinema e foi um salto natural, porque eu já pensava num contexto sonoro mais cinematográfico. Os pontos em comum, tanto quanto a motivação se encaixaram e foi um processo natural de aproximação de "disciplinas". Desde o incio, contamos com outros colaboradores e não estávamos preocupados com o que seria a Fellapi... Estávamos preocupados em tangenciar algo que pensávamos em comum. O Victor surgiu depois, em um momento em que estávamos experimentando um contexto sonoro mais analógico. Dessa "fase", posso citar outros parceiros muito importantes, como: Bruno Jacomino, Marcio Cabezas, Zozio - que, alias, foi talvez um dos primeiro colaboradores -, Rodrigo Roger, Henrique Queiroz e, lógico, o Negro Leo e a Ava Rocha, nossos padrinhos desde o primeiro single lançado na internet.

CMIND: De que forma você sente a obra e a performance de outro artista, ao ponto de "traduzi-la" em música? 

Fela: Na verdade, não sei se a palavra certa seria "sentir"... Presenciamos essa sonoridade, que de alguma forma chamamos de música - e que, sem pretensão alguma, acontece no nosso dia dia. Acho, tanto eu como o Tobinaga, que isso esta no mundo, não se trata só de escalas, harmonia, ritmo... Trata-se de estar no mundo, participar dele. Não somos "artistas"... Estamos em sintonia com nosso entorno. Desse contexto, já temos muito material para trabalhar e pensar. Nosso processo é muito cerebral e incrivelmente subjetivo.


CMIND: Como se dá a sua participação com outros DJ´s?

Fela: É para ganhar dinheiro.



Foto: Anderson Felix


CMIND: Ao ouvir, no Soundclound, "E Você II" e "Cortejo Carnavalesco" percebe-se uma forte pegada experimental/industrial; da vanguarda paulistana (Arrigo Barnabé e sua "Clara Crocodilo") e até de Tom Zé. Você definiu o seu trabalho como uma fusão entre o punk e o jazz. É um som "sujo" que se sofistica pela via experimental? 
  
Fela: Não sei se de fato é um fusion entre jazz e o punk, mas sem dúvida nenhuma são as principais influências... Gostamos muito de pensar, entre a gente, que tiramos do lixo algum tipo de pérola. Em verdade, é só um pensamento. Somos só sujos mesmo. Uma espécie de dejeto pós-moderno. Algo que sua filha não escutaria... De fato, somos só um tipo de podridão do primeiro mundo. Algo que as rádios de Barcelona querem tocar como um tipo de vanguarda vulgar do Brasil, um tipo de novidade de um mundo apocalíptico.



Com o guitarrista e multiinstrumentista Victor Cumplido. Foto: Facebook


CMIND: O que acha da cena do Rio para o seu tipo de som? 

Fela: Cara, na real, a galera do Rio saiu... Foram ganhar o mundo - o que achamos muito importante. Somos muito felizes de termos pessoas que nos acolheram diante desse cenário. Em especial, citaria o Negro Léo, a Ava Rocha, o Marcelo Calado, a galera do Zumbi do Mato, o Bernardo Oliveira, o Alan Athaide, a Tomba Records e toda a galera que nos apoia. Mas viver de música no brasil é...


CMIND: Já tocou em outras cidades do Brasil e do mundo? 

Fela: Sim, já tocamos em são paulo e fomos super bem recebidos.



Saiba mais:

Soundcloud: https://soundcloud.com/filipe-fela

Bandcamp: https://felappi.bandcamp.com/

Youtube: https://www.youtube.com/user/apagao

Facebook: https://www.facebook.com/felappiaraujo/

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

CMIND entrevista: BEL, cantora, compositora, escritora, produtora cultural e artista visual

Foto: Lucas Canavarro
Experimental, eletrônica, jazzística e popular, a música da cantora, compositora, escritora, produtora cultural e artista visual, Bel Baroni, a BEL (ex-Mohandas e integrante do Xanaxou), é o que se pode considerar como a que rompe velhos paradigmas. Isto porque - "questionando, atuando no micro" - ela vem imprimindo, na cena independente nacional, uma sonoridade diversa, que também se reflete no posicionamento político e na visão de mundo da artista. Feminista, BEL percebe a música como uma forma de mudar realidades. Nesta entrevista para o CMIND, ela fala um pouco de suas influências e expectativas para o novo disco, a ser lançado em fevereiro próximo. Confira!    
CMIND: No seu trabalho solo, em “Bem-Vindo” e em “Fica Fácil Assim”, percebe-se a sua verve criativa. Apesar da forte influência de elementos eletrônicos, não se encontra classificação em qualquer estilo musical. Quais são suas maiores influências e onde você encontra inspiração para compor seus arranjos?

BEL:
Esse álbum foi montado em dois anos; então, ao longo desse tempo, eu fui carregando algumas diferentes influências para a feitura dele. Estava escutando bastante Little Dragon, Karina Buhr, Belchior e Tame Impala. Mas sempre gostei de pesquisar música nova, bandas que não conheço. Não saberia dizer quais são as maiores influências. Elas vão mudando junto comigo. A inspiração para os arranjos está na forma como a letra bate, numa parceria bonita ou numa distração qualquer.
Fica fácil assim: https://soundcloud.com/belbaroni/ficafacilassim. Imagem: Divulgação


CMIND: No seu novo disco, o público pode esperar, também, um trabalho com as mesmas características?

BEL:
Acho que as faixas juntas estabelecem um diálogo; além de terem sido produzidas da mesma forma, num mesmo contexto - então, sim. Mas eu espero que as pessoas possam se surpreender também.

Foto: Lucas Canavarro


CMIND: Geralmente, no underground ou no mainstream, percebe-se a predileção por “líderes” de bandas mulheres que se apresentem com um “belo corpo” e um “rostinho bonito”, por supostamente “venderem mais”.  A Xanaxou é uma banda feminista que você faz parte, certo? Como você percebe o ativismo e o empoderamento feminino na música brasileira? Neste sentido, quais estilos musicais e artistas que você mais destacaria?

BEL:
A Xanaxou é uma banda formada por mulheres e isso por si só já carrega junto o conceito de "banda feminista". Se somos mulheres, compomos, performamos e tocamos instrumentos, o universo que vamos construir no palco e nas músicas é das coisas que vivemos, do contexto no qual estamos inseridas e tudo mais. O lance é que não falamos do ponto de vista do compositor e sim da compositora; não somos músicos instrumentistas e sim músicas instrumentistas - e isso já é diferente do que geralmente se apresenta. Escolhemos reforçar isso no nosso discurso, no nosso nome, na escolha do nosso repertório. O debate de gênero e o feminismo trazem potência para que projetos assim existam e para que a representatividade tenha vez.

Bem-vindo: https://soundcloud.com/belbaroni/bemvindo. Imagem: Divulgação


CMIND: Estamos vivendo um momento de avanço do pensamento conservador no Brasil. Isso está acontecendo, também, na música? Aliás, música e política são coisas que não se misturam?

BEL:
Política se mistura com tudo. Para mim, a música também. Vida é isso tudo junto. Acho que temos pensado cada vez mais sobre a forma como nos comunicamos, quebrando paradigmas, questionando, atuando no micro. Estamos assistindo o fim de muitas coisas e isso também é o início de muitas outras. Tem uma galera fazendo um som muito maravilhoso e desafiando isso tudo, principalmente nas músicas de periferia. No mais, a coisa está tão feia, que tenho me concentrado em ser sincera nas minhas ações, em respeitar as pessoas, em estar em sintonia com o que acredito.

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Entrevista realizada pelo jornalista Saulo Andrade

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

CMIND entrevista: Edbrass Brasil, diretor artístico do Sê-lo! NetLabel

Imagem: Divulgação


O Sê-lo! NetLabel, de Salvador (BA), lança, física e virtualmente, artistas que apostem na invenção e na ousadia. Abrange desde a seara mais radical de estilos, como o free jazz, o noise e a sound art, até trabalhos de carácter pop, folk e cancional, que estejam se arriscando e testando os limites dos gêneros musicais. O disco instrumental “Roda”, do Lanca, é o mais novo lançamento do Sê-lo! Confira a entrevista com o diretor artístico Edbrass Brasil!

CMIND: Vocês já chegaram a lançar outros artistas? Se sim, quais? 

Edbrass Brasil: Sim, este é o nosso sétimo lançamento. Lançamos cinco artistas da Bahia, um de São Paulo e outro do Rio de Janeiro. No nosso site, www.selonetlabel.com.br, pode-se encontrar mais informações, inclusive o link do bandcamp para download streaming, na sessão "catálogo".

André Borges, do Saxcretino. Foto: Divulgação


CMIND: Como você percebe o mercado para a música instrumental, alternativa e independente na Bahia e no Brasil? 

Edbrass Brasil: É inegável que, nos últimos 15 anos, houve uma profusão de selos independentes no Brasil; todos focados em gêneros musicais diversos, mas com um enfoque nas produções independentes, variando entre rock alternativo, eletrônico, jazz e aqueles que investem em produções mais obscuras, mais radicais em termos de linguagem, a exemplo do noise, música experimental, eletroacústica e Arte Sonora. Nos anos 80 predominavam no eixo Rio e SP, mas com o advento das novas tecnologias, podemos citar experiências vitoriosas de Norte a Sul do Brasil. Esse aspecto de descentralização da produção e distribuição só favorece o aparecimento de novas propostas artísticas, que trazem consigo, muitas vezes, características outras, lidando com informações e signos ligados aos seus diversos territórios culturais.

Apesar da falta de investimento das iniciativas públicas e privadas, esses coletivos ou iniciativas isoladas vêm movimentando e difundindo um tipo de produção que não circulava pelos meios de comunicação mais tradicionais. Daí que, além de lançar discos, esses selos organizam festivais, criam blogs, revistas, muitas vezes de forma colaborativa. Vejo um caminho muito bom pela frente, principalmente no que diz respeito a uma outra forma de produzir, menos autocentrada e mais aberta a colaborações. É comum, não só na Bahia ou no Brasil, mas pensando na América Latina também, uma certa tradição em lançamentos compartilhados, o que facilita e muito a circulação da obra que está sendo divulgada.



Orlando Pinho. Foto: Divulgação


Falando em Bahia, existe uma movimentação ao largo da indústria do entretenimento que aposta nessas fissuras da música massificada, tensionando a relação entre arte e entretenimento, forçando as barreiras entre os gêneros musicais e as linguagens artísticas, destacando os projetos Low Fi - Processos Criativos, Dominicaos e Plataforma Largo. 

No Brasil, podemos destacar os selos Seminal Records (MG), Desmonta (SP), Plataforma Records (RS), Estranhas Ocupações (PE), Propósito Records (GO), Al Revés (SP), Quintavant (RJ), dentre muitos outros. Quantos aos Festivais, vale de ficar de olho no FIME e no Novas Frequências. 

CMIND - Qual o diferencial do Sê-lo para outros selos do mercado?

Edbrass Brasil: Acho que o diferencial que estamos estabelecendo é uma linha curatorial que abarca desde projetos mais radicais, como os nossos três primeiros lançamentos (Invocações, Beto Junior e Radio Diaspora), que estão na faixa do que chamamos de música exploratória, com ênfase na arte sonora, voz-música e free jazz, até propostas mais afeitas ao formato canção (Reverendo T. e Laia Gaiatta). 
O foco do nosso trabalho está na distribuição digital dos discos, mas também produzimos mostras - como "Mostra de Música Experimental da Bahia", que ocorreu em São Paulo no mês de outubro -, ações formativas, fanzines e produzimos e gerimos as nossas próprias carreiras artísticas.




Tori lança single de "Descese" e se prepara para lançar álbum com parcerias consagradas

Primeiro lançamento solo, em cinco anos de carreira, o single de " Descese " - faixa título do futuro álbum de Tori (Vitória Nogue...