Foto: Lucas Canavarro |
Experimental, eletrônica, jazzística e popular, a música da cantora, compositora, escritora, produtora cultural e artista visual, Bel Baroni, a BEL (ex-Mohandas e integrante do Xanaxou), é o que se pode considerar como a que rompe velhos paradigmas. Isto porque - "questionando, atuando no micro" - ela vem imprimindo, na cena independente nacional, uma sonoridade diversa, que também se reflete no posicionamento político e na visão de mundo da artista. Feminista, BEL percebe a música como uma forma de mudar realidades. Nesta entrevista para o CMIND, ela fala um pouco de suas influências e expectativas para o novo disco, a ser lançado em fevereiro próximo. Confira!
CMIND: No seu trabalho solo, em “Bem-Vindo” e em
“Fica Fácil Assim”, percebe-se a sua verve criativa. Apesar da forte
influência de elementos eletrônicos, não se encontra classificação em qualquer
estilo musical. Quais são suas maiores influências e onde você encontra
inspiração para compor seus arranjos?
BEL: Esse álbum foi montado em dois anos; então, ao longo desse tempo, eu fui carregando algumas diferentes influências para a feitura dele. Estava escutando bastante Little Dragon, Karina Buhr, Belchior e Tame Impala. Mas sempre gostei de pesquisar música nova, bandas que não conheço. Não saberia dizer quais são as maiores influências. Elas vão mudando junto comigo. A inspiração para os arranjos está na forma como a letra bate, numa parceria bonita ou numa distração qualquer.
Fica fácil assim: https://soundcloud.com/
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CMIND: No seu novo disco, o
público pode esperar, também, um trabalho com as mesmas características?
BEL: Acho que as faixas juntas estabelecem um diálogo; além de terem sido produzidas da mesma forma, num mesmo contexto - então, sim. Mas eu espero que as pessoas possam se surpreender também.
BEL: Acho que as faixas juntas estabelecem um diálogo; além de terem sido produzidas da mesma forma, num mesmo contexto - então, sim. Mas eu espero que as pessoas possam se surpreender também.
Foto: Lucas Canavarro |
CMIND: Geralmente, no underground ou no mainstream, percebe-se a predileção por “líderes” de bandas mulheres que se apresentem com um “belo corpo” e um “rostinho bonito”, por supostamente “venderem mais”. A Xanaxou é uma banda feminista que você faz parte, certo? Como você percebe o ativismo e o empoderamento feminino na música brasileira? Neste sentido, quais estilos musicais e artistas que você mais destacaria?
BEL: A Xanaxou é uma banda formada por mulheres e isso por si só já carrega junto o conceito de "banda feminista". Se somos mulheres, compomos, performamos e tocamos instrumentos, o universo que vamos construir no palco e nas músicas é das coisas que vivemos, do contexto no qual estamos inseridas e tudo mais. O lance é que não falamos do ponto de vista do compositor e sim da compositora; não somos músicos instrumentistas e sim músicas instrumentistas - e isso já é diferente do que geralmente se apresenta. Escolhemos reforçar isso no nosso discurso, no nosso nome, na escolha do nosso repertório. O debate de gênero e o feminismo trazem potência para que projetos assim existam e para que a representatividade tenha vez.
Bem-vindo: https://soundcloud. |
CMIND: Estamos vivendo um momento de avanço do pensamento conservador no Brasil. Isso está acontecendo, também, na música? Aliás, música e política são coisas que não se misturam?
BEL: Política se mistura com tudo. Para mim, a música também. Vida é isso tudo junto. Acho que temos pensado cada vez mais sobre a forma como nos comunicamos, quebrando paradigmas, questionando, atuando no micro. Estamos assistindo o fim de muitas coisas e isso também é o início de muitas outras. Tem uma galera fazendo um som muito maravilhoso e desafiando isso tudo, principalmente nas músicas de periferia. No mais, a coisa está tão feia, que tenho me concentrado em ser sincera nas minhas ações, em respeitar as pessoas, em estar em sintonia com o que acredito.
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Entrevista realizada pelo jornalista Saulo
Andrade
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