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segunda-feira, 4 de julho de 2022

Bateria é protagonista em "Manuscrito Sobre Pedras", de CH Malves

Primeiro álbum do artista eleva bateria e percussão como principais referências sonoras


Foto: Gladson Galego

Microfones de lapela em mãos, pode-se dizer que o disco 'Manuscrito Sobre Pedras' é um trabalho de concepção artesanal. O álbum dá destaque à sonoridade de peles, pratos de bateria e elementos percussivos do produtor, professor e baterista sergipano Carlos Henrique Malves, o CH Malves. Primeiro projeto solo do artista, o disco é dividido em quatro faixas e se caracteriza, segundo o autor, como uma obra “libertadora”.

 

Concebido, inicialmente, como ideia de banda, Carlos fez algumas linhas melódicas e compôs músicas no aplicativo Garageband — 'um estúdio de música com uma biblioteca completa de sons'. Mas o distanciamento da pandemia não deixou o projeto fluir pela performance. Resultado: CH Malves achou o processo frio e, simplesmente, interrompeu-o para mudar de rota:

 

“Como tenho um trampo de performance solo, senti ser hora de fazer algo full na bateria e na percussão. Tranquei-me no estúdio e toquei. No processo de mixagem, ainda processei o som livremente, sobrepondo-o e o esticando”.





 Como referência para a bateria experimental, Malves cita todos os processamentos que Chris Cutler utiliza no instrumento. Para compor, Carlos bebe dos métodos experimentais que vêm da Escola de Nova York dos anos 50 e da cultura punk, hard core mais suja; além de estímulos gráficos, text composition e roteiros: “essas técnicas são estímulos para movimentar a performance” — reflete. 




 Música e academia

 

Professor no curso de arte e mídia da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), na Paraíba, Malves é, primordialmente, um eterno estudante. Desde a graduação em percussão na UFPB (Universidade Federal da Paraíba), ele seguiu estudando. Cursou mestrado em práticas interpretativas na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e, atualmente, está na seleção do doutorado em Musicologia.

 

Para o baterista, esses estudos “se refletem no som”, porque tais aprofundamentos acadêmicos abrem a sua cabeça, “quanto à técnica, à estética, às possibilidades de criar e às culturas sonoras marginalizadas”.


Lei Aldir Blanc: incentivo fundamental

 

O álbum “Manuscrito Sobre Pedras” foi contemplado pela Lei Aldir Blanc. Para Malves, esse foi um fator importante para o lançamento de seu trabalho. O artista explica que, antes da pandemia, estava vivendo somente de música — tocando, dando aula e trabalhando com captação de som para cinema. Mas, “de uma hora para outra, tudo parou”:

 

“A lei foi essencial para a sobrevivência mesmo. Através dela, conseguimos retirar alguns projetos da gaveta e segurar a tormenta. Fez nós percebermos que o Estado consegue manter uma prática de financiamentos, podendo tranquilamente obter um retorno, fomentando, também, novas culturas, e deixando as coisas acessíveis para todos. Com o tempo, isso se mostra na cultura, de uma forma geral, e no bem-estar das pessoas. Assim, é primordial lutarmos pela permanência das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo — que está aí, na fila”.


Dentre os bateristas que mais o influenciam musicalmente, constam nomes como Rubinho Barsotti, do Zimbo Trio; Bob Wyatt, do Soft Machine; Edson Machado e Nenê, que tocava com Hermeto Pascoal — artista que Malves sempre gostou, por sua atitude simples, “de produzir som com o que tiver na mão, em qualquer condição”, o que “é essencial para destravar a composição” — ressalta.


Hermeto Pascoal, o "Bruxo". Foto: medium.com


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