Álbum conta com ritmos diversos e tem samba como matriz
Primeiro disco do cantor, compositor e multi-instrumentista Vinícius Duran, “PalavrasMarginais” é feito de sambas com uma pegada de protesto, que rementem às letras de grandes nomes da Música Popular Brasileira – como Chico Buarque -, nos tempos da ditadura. Genuinamente “alegre” - no álbum -, o gênero musical dialoga com temáticas sérias e tristes da atual realidade brasileira, no que pode ser considerada uma importante declaração poética, de resistência da música de raiz e de nossas tradições culturais.
Foto: Luan Cardoso |
Para Vinícius, “o samba tem conexões profundas com as nossas festas, dores e lutas”. A música conta a história de seu povo. E o samba, em especial, no decorrer dela, foi duramente reprimido. Os relatos de sambistas mais antigos sobre a truculência policial contra eles, no período da ditadura, são, de fato, chocantes:
Divulgação |
“Existem outros; alguns mais alegres, outros nem tanto. Há uma canção emblemática, de São
Paulo, “Silêncio Bixiga”, de Geraldo Filme, em que o compositor faz uma
homenagem ao Pato n’Água, sambista executado pela polícia, num desses
confrontos dos anos de chumbo”.
A nossa bandeira jamais será
vermelha (?)
“Bandeira Vermelha” é uma música que chama atenção, no álbum de Vinícius. Na letra, ele faz
uma provocação, no sentido de quem apoia políticas de extermínio, que destroem
a vida do trabalhador e ecoa a frase – “a nossa bandeira jamais será vermelha!”.
Aliás, há uma tese que diz que, na verdade, a bandeira brasileira deveria ser vermelha, por conta do pau Brasil e do sangue derramado, no decorrer da nossa história.
“Ainda
estamos longe de nos livrar da herança maldita da escravidão. A gente ainda
divide a sociedade em um grupo pelo qual temos empatia e outro que pode passar
por todo o tipo de abuso, sem sequer ser notado, sem gerar uma grama de
revolta. É como eu digo no samba: a nossa bandeira é vermelha, sim: vermelha de
sangue” - reflete o músico.
Estrada a percorrer
Vinícius
Duran está chegando agora e percebe que ainda é cedo para se falar em boicote -
a despeito do tradicional pouco espaço destinado a artistas independentes, que
elaboram letras mais “ousadas”, como as dele. Isso porque tudo gira em torno de
anúncios pagos por empresas, como em qualquer outra indústria:
“O lado
bom é que hoje os artistas independentes têm muitos veículos alternativos, que
podem acolher o seu trabalho e contribuir na divulgação de suas ideias. Aliás,
obrigado pelo espaço! ”.
Obrigado
a você, Vinícius!
Ouça “Palavras Marginais”: https://tratore.ffm.to/
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