quarta-feira, 14 de setembro de 2022

No clipe de "Dormente", DNSM faz reflexões políticas que estão na ordem do dia

Música integra EP "Despertar"



O lyric vídeo de "Dormente", da banda DNSM, é uma música que aborda fatos do atual governo, do ponto de vista de quem não está em cima do muro. O clipe alerta e contesta as fake news que dominam o imaginário de um importante segmento da sociedade brasileira (cerca de 30% da população).



Divulgação



Com posições claras contra o bolsonarismo, o grupo paulistano reflete sobre temas contemporâneos - ao som de muito rock and roll, sintetizadores e música popular brasileira. Assim é, também, todo o EP, lançado recentemente por eles: "Despertar".

"Dormente" nos alerta, também, que, mesmo após o despertar - com a iminente derrota de Bolsonaro -, é possível que ainda tentem nos aprisionar em crenças limitantes. Afinal, o bolsonarismo pode, ainda, continuar presente na nossa sociedade, mesmo com o fim do governo, em dezembro de 2022. 







Para o vocalista JJ Zen, as ideias bolsonaristas remetem às dos integralistas da década de 30, com Plínio Salgado, ou os fascistas "à moda brasileira". Ele ressalta que o partido de Roberto Jefferson (PTB), que apoia Bolsonaro, é "a casa dos integralistas". E, mesmo que o presidente seja derrotado em 2022, as ideias dele vão continuar. "Isso já dura quase um século. Aliás, durante a política da boa vizinhança dos Estados Unidos - que usa do soft power para levar o Brasil para o lado deles -, os americanos deixaram de investir em uma possível "Hollywood brasileira", porque o nosso país era 'muito conservador e não estava pronto para isso'. Longe de defender os EUA ou apoiar a interferência deles na política da América Latina; mas Bolsonaro é apenas uma consequência da atrofia cultural do Brasil" - questiona. 


Zen avalia ainda que sensibilizar quem não se atenta a valores que realmente deveriam importar para a coletividade é um dos principais desafios, para que a mensagem de sua música atinja mais pessoas. Eis o caso, por exemplo, dos bolsonaristas. "Estes dias, recebemos um comentário, no YouTube, que dizia o seguinte: 'É tipo Pink Floyd. Se souber separar a música da mensagem, é 10! Se não, é melhor partir pra outra! A música me agrada, o tema, nem tanto!”. Constatei que quem escreveu isso é apoiador do Bolsonaro. Acho praticamente impossível que o núcleo duro que o apoia veja o nosso vídeo e tome consciência. O sentimento deles é muito, mas muito mais forte. Além disso, o DNSM é um grupo independente e sem um grande alcance na mídia, capaz de possibilitar que  nossas ideias atinjam um alcance maior" - ressalta. 



Foto: Ishihara Marques



Diante do cenário atual, o músico se aprofunda no tema das bolhas e segmentações artísticas e políticas, impostas pela Internet, destacando que o potencial para furá-las deriva de dois aspectos: educação política e algoritmo das redes sociais. 

De acordo com JJ Zen, frases como a do empresário Roberto Medina, de que “a música não tem lado”, é "quase como afirmar que artistas como RATM, Ratos de Porão, Nina Simone e Tom Zé devem ficar calados enquanto ele (Medina) fatura muito com isso". "Precisamos deixar de lado o discurso de que política não se discute". 

A influência dos algoritmos das redes sociais em resultados de fatos históricos recentes, como o Brexit, na Inglaterra, e as eleições de Trump, nos Estados Unidos, e Bolsonaro, aqui no Brasil, também é algo que inquieta o artista. "As redes sociais devem ser regulamentadas, em caráter de urgência, e reafirmo: não se trata de proibir de se falar de política" - enfatiza.  

Ninguém solta a mão de ninguém

O DNSM obteve dois investimentos do Estado, durante sua trajetória. Com o ProAc, em 2018, eles gravaram o EP “Devaneios De Uma Mente Ordenada”. Já com a Lei Aldir Blanc, em 2021, convidaram outros artistas para tocar ao vivo. Com este aporte financeiro, foi possível pagá-los. Eram músicos "que não tinham um centavo no bolso, durante a pandemia". "Ajudamos os que estavam em situações mais difíceis, no projeto de 2021, da lei Aldir Blanc, até com dinheiro do próprio bolso. Eu não saberia quantificar ou qualificar a importância de derrotar este projeto político atual. Mas diria que ele é a razão da minha função como artista e ser pensante na nossa sociedade" - destaca JJ Zen.

Ouça “Despertar”: https://found.ee/dnsm_despertar

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