Cantora é a voz feminina do Bloco Cacique de Ramos
Foto: divulgação |
A ancestralidade das nossas raízes africanas representa o enaltecimento
do povo preto, dos orixás, dos exus e do povo brasileiro. Autodeclarada
guerreira e lutadora, a cantora e enfermeira de formação Margarete Mendes, a “Rainha da
Lapa”, traduz, no seu samba, uma musicalidade que a deixa à vontade para
representar tudo o que a mulher preta brasileira tem de belo, em toda sua fé e
potência.
A vida na música começou como uma brincadeira - de bom gosto, diga-se.
Em 30 anos de estrada, a artista foi uma das muitas que, no início da carreira,
aventurou-se nos caraoquês do Rio. No da Praia de São Bento, na Ilha do
Governador, ela cantava e agradava um público cativo, que chegava a doar mais e
mais fichas para se deliciarem ouvindo a voz dela. “Se você sente a música,
consegue transmitir para as pessoas. E este é o caminho: levar ao público o
sentimento mais puro que temos no coração” – revela a sambista.
Além dos caraoquês, Margarete frequentou muito, também, eventos de nomes
importantes do meio do samba. Serginho do Cavaco, por exemplo, deu-lhe força
para prosseguir. Com palavras de apoio e coragem, “ele dizia que eu iria dar
certo – e deu!” – lembra a artista, que ressalta o seu papel no samba como uma
das provas do respeito e do empoderamento conquistado pela mulher preta, na
música popular brasileira. “Sou preta e macumbeira. Defendo a raiz do samba,
nossa ancestralidade, o meu povo preto. Eu posso, quero, vou atrás e vou
conseguir. Graças a Deus e aos orixás, sou determinada e guerreira”.
Foto: rede social. |
Voz feminina do Bloco Cacique de Ramos — nomeada por Bira Presidente (foto) —, Margarete Mendes é também conhecida como a “Negona do Axé”: a cantora une sua voz marcante à dança ancestral, conduzindo o público a uma viagem cultural e de resgate, pelos caminhos do samba, o que a torna uma embaixatriz da resistência e da fé, na música.
Foto: rede social |
Neste ano de 2022, Mendes participou, também, do projeto Cultura do Carnaval
Carioca, da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Nele, gravou um
single e ganhou o Prêmio Ubuntu de Cultura Negra, na categoria Ritmo Popular.
Dentre as influências percebidas no trabalho de Margarete Mendes, podem-se
perceber traços marcantes de Jovelina Pérola Negra; Clementina de Jesus; Dona
Ivone Lara; Alcione; Lecy Brandão e Clara Nunes. Cantoras que, para ela, são
referências que quer continuar tendo em sua trajetória musical.
O samba é a minha nobreza - e luta
Para Mendes, o samba, hoje, ocupa – merecidamente - um lugar nobre e de
destaque. Ela avalia, no entanto, que essa luta não acabou, porque há,
ainda, “muita hipocrisia, por debaixo do tapete”. “A música popular brasileira
é respeitada no mundo inteiro, mas, infelizmente, isso não acontece por aqui. E
quando se trata de mulher preta, pior ainda”.
Otimista, Margarete Mendes destaca que o samba conseguiu conquistar
muita coisa que, há anos e até séculos, não havia. Ela se orgulha de empunhar
essa bandeira. “Sou preta, cantora, enfermeira e respeitada por isso.
Atualmente, sou também reverenciada como cantora. Não tenho parente influente e
não caí no samba de paraquedas. Lutei para chegar até aqui. O povo preto tem
que se destacar e fazer com que todos nos respeitem” – enfatiza.
Conheça a música de Margarete Mendes aqui!
Nenhum comentário:
Postar um comentário