terça-feira, 14 de junho de 2022

Samba de Margarete Mendes traduz luta da mulher preta

 Cantora é a voz feminina do Bloco Cacique de Ramos

 

Foto: divulgação

A ancestralidade das nossas raízes africanas representa o enaltecimento do povo preto, dos orixás, dos exus e do povo brasileiro. Autodeclarada guerreira e lutadora, a cantora e enfermeira de formação Margarete Mendes, a “Rainha da Lapa”, traduz, no seu samba, uma musicalidade que a deixa à vontade para representar tudo o que a mulher preta brasileira tem de belo, em toda sua fé e potência.  

 

A vida na música começou como uma brincadeira - de bom gosto, diga-se. Em 30 anos de estrada, a artista foi uma das muitas que, no início da carreira, aventurou-se nos caraoquês do Rio. No da Praia de São Bento, na Ilha do Governador, ela cantava e agradava um público cativo, que chegava a doar mais e mais fichas para se deliciarem ouvindo a voz dela. “Se você sente a música, consegue transmitir para as pessoas. E este é o caminho: levar ao público o sentimento mais puro que temos no coração” – revela a sambista.





 

Além dos caraoquês, Margarete frequentou muito, também, eventos de nomes importantes do meio do samba. Serginho do Cavaco, por exemplo, deu-lhe força para prosseguir. Com palavras de apoio e coragem, “ele dizia que eu iria dar certo – e deu!” – lembra a artista, que ressalta o seu papel no samba como uma das provas do respeito e do empoderamento conquistado pela mulher preta, na música popular brasileira. “Sou preta e macumbeira. Defendo a raiz do samba, nossa ancestralidade, o meu povo preto. Eu posso, quero, vou atrás e vou conseguir. Graças a Deus e aos orixás, sou determinada e guerreira”.



Foto: rede social.


 

Voz feminina do Bloco Cacique de Ramos — nomeada por Bira Presidente (foto) —, Margarete Mendes é também conhecida como a “Negona do Axé”: a cantora une sua voz marcante à dança ancestral, conduzindo o público a uma viagem cultural e de resgate, pelos caminhos do samba, o que a torna uma embaixatriz da resistência e da fé, na música.



Foto: rede social



Neste ano de 2022, Mendes participou, também, do projeto Cultura do Carnaval Carioca, da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Nele, gravou um single e ganhou o Prêmio Ubuntu de Cultura Negra, na categoria Ritmo Popular.

Dentre as influências percebidas no trabalho de Margarete Mendes, podem-se perceber traços marcantes de Jovelina Pérola Negra; Clementina de Jesus; Dona Ivone Lara; Alcione; Lecy Brandão e Clara Nunes. Cantoras que, para ela, são referências que quer continuar tendo em sua trajetória musical.  

 

O samba é a minha nobreza - e luta

 

Para Mendes, o samba, hoje, ocupa – merecidamente - um lugar nobre e de destaque. Ela avalia, no entanto, que essa luta não acabou, porque há, ainda, “muita hipocrisia, por debaixo do tapete”. “A música popular brasileira é respeitada no mundo inteiro, mas, infelizmente, isso não acontece por aqui. E quando se trata de mulher preta, pior ainda”.

 

Otimista, Margarete Mendes destaca que o samba conseguiu conquistar muita coisa que, há anos e até séculos, não havia. Ela se orgulha de empunhar essa bandeira. “Sou preta, cantora, enfermeira e respeitada por isso. Atualmente, sou também reverenciada como cantora. Não tenho parente influente e não caí no samba de paraquedas. Lutei para chegar até aqui. O povo preto tem que se destacar e fazer com que todos nos respeitem” – enfatiza.


Conheça a música de Margarete Mendes aqui!

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