terça-feira, 31 de maio de 2022

Matheus Marê exalta a MPB em ‘Viajante’

 

 

Apuro musical e riquezas melódicas são destaque em novo EP

 

Imagem: divulgação



Durante um certo tempo de sua vida, o cantor e compositor baiano – radicado em São Paulo desde os 22 anos -, Matheus Marê, dividia o seu talento artístico com o antigo trabalho no setor de autopeças. Esta era uma das atividades que ele e muitos outros talentos desconhecidos Brasil afora faziam (ou ainda fazem), antes de trabalhar, hoje, integralmente com música.

 

Sua dedicação à arte se reflete na sonoridade de ‘Viajante’. O novo EP de Marê possui uma forte pegada da Música Popular Brasileira tradicional – incluindo a pré-MPB, a bossa nova e o samba. Mas ele gosta, também, de viajar entre diferentes modos de se fazer música, retirando dela algo de fresco e novo. ‘Clouds in the Sky’, por exemplo, é um rock que lembra ao ouvinte que nomes como Cazuza não morreram; já ‘Um Pouco De Soul’ bebe do suco desse estilo musical norte-americano:  

 

“A minha identidade musical passa pela poesia e a sensibilidade, numa constante construção de beleza com as palavras”.




 

Trajetória

 

Até chegar ao ponto de viver exclusivamente da música, Matheus contou com outros artistas, que lhe abriram portas. Nesse universo, ele é grato a muita gente, principalmente pessoas que lhe ensinaram algo, apoiaram-no e lhe emprestaram conhecimento e arte.



Foto: divulgação


 

Para o baiano, essas pessoas e instituições - como a Escola de Música & Tecnologia, onde se formou, em São Paulo, como técnico de áudio – fizeram, de diferentes formas, parte do seu crescimento:

 

“Lá, há profissionais do meio da produção e músicos fantásticos. Sou grato ao sanfoneiro, produtor e diretor artístico Bolinha, que abriu todo o leque para a gente trabalhar com as minhas composições, neste que é um EP totalmente artístico. Foi tudo muito bem feito”.

 

Foi através de Bolinha - ganhador de um Grammy Latino -, aliás, que Marê conheceu artistas e profissionais de renome, como o baterista Carlos Bala e o técnico de áudio Luís Paulo Serafim – de quem o cantor admira o trabalho. “É o maior e mais lendário técnico de áudio do Brasil. É sempre muito bom vê-lo trabalhando, mixando, captando e, agora, fazer parte disso. Seu lema é ‘mixar com arte’. É exatamente o que ele faz” – elogia Matheus.


Baterista Carlos Bala. Foto: Facebook


 

Qualidade

 

Quem escuta o EP ‘Viajante’ percebe o cuidado e a acurácia técnica dos arranjos, que contaram com o apoio do maestro J Resende, “um músico genial”, que não alterou nada da melodia da voz composta por Matheus.

 

Todas as composições de Marê nascem do violão e de uma folha de papel. Num constante fluxo de ideias, ele trabalha a partir de uma música e, dela, vem a harmonia, a melodia da voz e as palavras, “como uma coisa só”:

 

“Estou apaixonado por esses arranjos do maestro J Resende. Ele ampliou as harmonias que eu havia feito inicialmente ao violão, adaptando tudo para a banda de uma forma perfeita, que realmente me emociona”.

 

Mercado  

 

Nas palavras do cantor Matheus Marê, a geração atual não tem mais tempo para mastigar algo: “tem que receber tudo engolindo”. Ainda de acordo com o músico, em aplicativos como o Tik Tok, por exemplo, o espectador fica atento àqueles 15 segundos “que te prendem e que têm de ser chiclete”:

 

“Se você colocar uma música de Caetano Veloso, Djavan ou a minha mesmo, nos stories ou no Tik Tok, não haverá o mesmo impacto que uma, feita exclusivamente para ser consumida naqueles meios de comunicação”.

 

Apesar de acreditar que as novas gerações estão com a atenção voltada a um conteúdo “quase irracional”, que prejudica a difusão de músicas que procuram ser um pouco mais ricas, cultural e artisticamente, o artista ressalta que, na MPB, o Brasil vivencia um processo de retomada.

 

Para Matheus, o mainstream está repleto de artistas que fogem desse estilo musical e vão mais para o caminho do sertanejo, do funk e do pop. Mesmo assim, ele acredita na força da Música Popular Brasileira. “Há muitos artistas crescendo e conseguindo expandir para demais camadas de ouvintes, na nossa sociedade. A perspectiva é boa e eu, humildemente, tento fazer parte de todo esse contexto” – ressalta o cantor, que acredita que a MPB deveria merecer mais destaque na mídia.

 

Marê ressalta que não faz sentido “uma música tão rica, harmonicamente, que culturalmente abrange diversos assuntos de raiz nacional”, não ter o destaque que merece. Ele defende a tese de que, geralmente, os espaços de mídia estão reservados a coisas mais acessíveis, “simplistas mesmo”:

 

“Certamente, não falta riqueza na música brasileira. Nossa musicalidade está presente hoje, tanto quanto o fora em outros tempos, em que a MPB tinha mais espaço na mídia. O que acontece é um afunilamento”.

 

O cantor observa ainda que existe um nicho para a MPB e há possibilidades para se “furar a bolha”. Ele analisa que a própria Internet oferece plataformas e possibilidades de resistência, apesar dela ser a responsável pelo crescimento de conteúdos cada vez mais rápidos e menos filtrados. “Artistas independentes, como eu, e milhares de outros, Brasil afora, têm a possibilidade de criar e difundir conteúdo. A Internet pode, também, ser uma ferramenta de resgate da cultura brasileira para as massas. Tudo é cíclico” – reflete o músico.   



 

 

 

Apresentações

 

Durante o período em que esteve produzindo o ‘Viajante’, Matheus Marê estava se preparando para pegar a estrada. Atualmente, ele vem ensaiando um repertório autoral, mesclado a clássicos do cancioneiro popular. Nos shows, na banda que Marê vem ensaiando e o acompanha, há nomes como Victor Cabral, na bateria; Igor Pimenta, no baixo; Tom Santana, na guitarra; e André Freitas, no teclado. “São músicos maravilhosos, do nível desses que gravaram o EP” – elogia Matheus, que já tem um show agendado para 26 de agosto, no Teatro Pedro Ivo, em Florianópolis (SC):

 

“O ‘Tributos’ homenageia o baiano Dorival Caymmi, o paulista Adoniran Barbosa e o carioca Cartola, três dos maiores nomes do nosso samba. O show foca totalmente na música deles. Estamos preparando esse evento com um carinho muito especial”.



 

 

Além do próprio Matheus, de Carlos Bala, Luís Paulo Serafim e J Resende, o EP ‘Viajante’ contou com o baixo de Alex Mesquita; o violão e a guitarra de Conrado Góis; a percussão de Alexandre de Jesus; e, em algumas faixas, com um naipe de metais, como o do sax alto de Cássio Ferreira. “É muita gente boa! Esse EP não contou apenas com um artista: são vários! Cada um colocou sua musicalidade ali, para chegar a esse resultado!” – comemora o músico. 


Ouça 'Viajante' aqui

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