Música experimental-instrumental de Leandro Lima bate ponto nas plataformas de streamings
Leandro Lima. Foto: Xico Pessoa |
Redescobrir e traduzir o novo, em meio à
rotina cotidiana, é uma das missões de todo artista. Em “Expediente”, o músico
e designer pernambucano Leandro Lima, idealizador do projeto TORTO, seguiu à
risca essa premissa. Por trás da gravação de algumas das sete faixas do álbum,
pode-se até perceber as vozes dos companheiros de trabalho do designer Leandro,
um artista cuja musicalidade - do post-rock ao eletrônico - dá vida e percepção a uma realidade que, para muitos, beira o banal.
Confira um pouco desse processo criativo, nesta
entrevista exclusiva que o artista concedeu ao CMIND!
Por que a abordagem do dia a dia do trabalho "convencional" na
sua música?
Primeiramente,
porque era onde eu estava, enquanto desenvolvia as músicas (risos). Sempre
procuro, de certa forma, dar uma fugida das coisas que faço cotidianamente, para
mudar o foco e pensar em outras perspectivas ou simplesmente me divertir. Música
vem a ser um desses escapes para mim (na verdade, os dois: fuga e
diversão). E isso entra totalmente em conflito com as idealizações de um
trabalho corporativo.
Sua música parte de um questionamento acerca do aspecto mecânico e
melancólico do trabalho cotidiano?
Também.
Não necessariamente partiu da “melancolia”, mas ela acabou aparecendo, por
causa dos processos mecânicos. Generalizando, o trabalho ocupa a maior parte do
dia. Quando passamos a enxergar que ele pauta a maioria das decisões e prazeres
cotidianos, é algo um pouco assustador. As músicas do “Expediente” vêm
dos sentimentos gerados por essa inquietação e pelos questionamentos acerca da
relação entre lazer e trabalho, além das trocas e recompensas que ele oferece.
Digo recompensas, não só me referindo ao dinheiro, mas, principalmente, às
relações interpessoais e vínculos criados nesse ambiente: a famosa
"hora do cafezinho". Não vejo o trabalho sempre como algo ruim.
Há os dois lados, como tudo na vida. Mas entendo o peso e o significado que
essa palavra carrega, em todo o seu contexto histórico.
Capa de "Expediente" |
Como você encara o senso comum de que o trabalho com música, arte e
cultura - de uma forma geral - não é "útil" para a sociedade, por não
trazer um resultado "palpável"?
Não sei
se é um senso comum (espero que não); mas acredito que muita gente pense assim
mesmo. Acho um pouco sem sentido essa afirmação. Acredito que não exista
alguém, em estados ditos "normais", que não absorva algum tipo de arte
e ou cultura. Então, o fato de não achar "útil" é no mínimo irresponsável
com o que a pessoa que pensa assim consome (sim, ela também ouve música). Fui
criado em uma família que sempre consumiu muita arte, em todas as suas formas e
plataformas. Embora nunca tenha sido uma forma de trabalho, o papel do artista
na sociedade sempre ocupou um lugar de prestígio e de grande reconhecimento.
De que forma a indústria cultural uniformiza a expressão artística,
tornando-a sem subjetividade, e qual é a importância de se fazer música experimental
e questionadora, especialmente no contexto social que vivemos hoje, no
Brasil?
A
indústria sempre teve, ao longo dos anos, várias ferramentas para mensurar
o que está em ascensão, massificar e vender tudo o mais rápido possível.
Ultimamente, estamos vivendo na era do "big data", em que algoritmos
têm à disposição, de forma rápida e fácil, informações fundamentais para a
percepção do que é mais facilmente aceitável e rentável para a indústria.
A fórmula da repetição nunca esteve tão acessível. Acredito que "cultura
de massa" sempre vai existir; talvez, cada vez mais nichada, mas, de
alguma forma, sempre vai "nortear" as pautas e os caminhos que a indústria
segue.
Por outro
lado, também vai ter gente experimentando. O ser humano é um bicho muito
curioso. Acredito que seja impossível fazer com que essa busca pela novidade
acabe, tanto da parte de quem faz como de quem busca. E aí, acho muito importante
sites como este e como o Hominis Canidae, que fazem esse papel de ajudar e
disseminar esses experimentos.
É uma relação
de eterna dependência. Para haver uma quebra de paradigma, tem que existir
um paradigma, senão, não há ruptura. Fica aí dica de uma série hypada, mas
que gera bons questionamentos sobre o trabalho.
E a
música experimental tem importância fundamental, em todo esse processo.
Experimentar foi o que levou toda a humanidade até aqui. Com música, não poderia
ser diferente. A meu ver, nem toda música é questionadora, mas toda
música pode gerar questionamentos. Depende do ponto de vista de quem a está
escutando. A melodia, por si só, já traz questões inatas. A música experimental
é questionadora, desde seu ato de criação. Experimentar é questionar na
prática!
Experimente
“Expediente” aqui, nas nove plataformas de streamings.
Lançamento:
selo Hominis Canidae REC.
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