terça-feira, 16 de agosto de 2022

Duo Nascente reúne sonoridade erudita e popular em EP de estreia

Bia Nascimento e João Cordeiro lançam "Água de Nascente"

Singeleza e calmaria são algumas das principais marcas sonoras do álbum “Água de Nascente”, do duo Nascente. O violão de Bia Nascimento e o vibrafone de João Cordeiro têm uma potência capaz de preencher os vazios sonoros - ou da alma - de ouvidos mais atentos e sensíveis, numa fluidez rítmica propícia ao deleite.


Foto: Marina Costa

O desafio de escrever arranjos que soam completos, com apenas dois instrumentos musicais, contou com o trabalho do arranjador Caetano Brasil, que, de acordo com a dupla, é a pessoa ideal para unir vibrafone e violão, “de forma uniforme e horizontal”.

“Ele tem a sensibilidade para fazê-lo, de modo que cada um ocupe a sua cena, costurando entre as melodias e os ritmos, compartilhando o espaço da música” – ressalta Bia.


Democracia musical

O trabalho do duo Nascente abraça o conceito de pensar a música instrumental para além das salas de concerto, no sentido de fazer com que esse estilo chegue a ouvidos mais jovens, desacostumados com a música que Bia e João executam. A violonista avalia que os desafios para a empreitada são muitos e, principalmente, políticos. Isso porque, para ela, a “música instrumental é classista”, feita e consumida para uma classe social específica:

“É algo construído socialmente, há muitos anos. O desafio está posto, desde 1500. A nossa sorte é que a música brasileira rompe muitas barreiras musicais, políticas e sociais. O choro, o xote e o ijexá, por exemplo, estão presentes no nosso EP, o que democratiza mais a música instrumental. Ainda assim, tenho total consciência de que a música que fazemos não vai atingir um público tik tok, por exemplo. E está tudo bem”.

A musicista percebe que a mudança está em ampliar o acesso aos shows e dar importância a leis de incentivo que possibilitem ao músico ocupar lugares não privados. “É muita estrada a percorrer, ainda mais atualmente, em que tudo é líquido. A gente está correndo contra a maré” – explica Bia.  





Minas

Bia e João são partes da pujante cena da música instrumental de Minas e Juiz de Fora, que muito contribuiu - com Milton Nascimento, Lô Borges, Fernando Brant e o Clube da Esquina - para a música popular brasileira e suas ramificações instrumentais. O vibracionista se sente privilegiado por ter nascido num estado de “tantas inspirações ao redor”. “Posso dizer o que mais me encanta na música mineira, que são as harmonias” – inspira-se.

A violonista acrescenta que, nos últimos anos, “o único orgulho que não tenho perdido do Brasil é da nossa música”. Para ela, musicalmente, Minas “trouxe a calmaria”:

“Quando eu escuto esses caras, sinto vento no peito. É uma música que abre espaço. É como se sentíssemos cada esquina de Minas mesmo, tomando um café. E aí, como sou violonista, ligo essa sensação com os acordes soltos do Milton, de corda solta. Uns acordes abertos, que é tipo quando a gente está em cima de uma montanha, vendo tudo em 360 graus. Isso tudo sempre me influenciou muito, principalmente porque também cresci ouvindo. Quando componho, por exemplo, essas sensações vêm de forma muito natural"

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