Artista passou pelo Rio e outras duas cidades fluminenses
Do sertão paraibano, ELON traduz, em forma de canto, a luta e o empoderamento de afetos LGBTQIA+ de um artista que nasceu e se criou na cidade de Pombal (PB). Município berço do poeta popular Leandro Gomes de Barros - o 'pai do cordel brasileiro' -, a localidade é próxima à Serra do Teixeira, de onde surgiu o repente. Na sua primeira turnê pela região sudeste, ele traz, hoje (22), o espetáculo do seu EP, TATEIA, ao Teatro da Rotina, em São Paulo - após ter passado pelas cidades do Rio, Niterói e Nova Iguaçu.
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ELON, acima, e Helinho Medeiros. Foto: Áurea Caroline |
Ao lado do produtor musical do disco e músico que o acompanha no show, Helinho Medeiros - que também é de família sertaneja -, ELON não nega suas origens: produzido na Paraíba, TATEIA é, essencialmente, um EP de canção nordestina. A sonoridade de TATEIA estabelece uma ponte entre o tradicional repente nordestino e uma linguagem musical mais contemporânea da Música Popular Brasileira. Há um "quê" de ousadia sonora, que remete o ouvinte à brasileiríssima vanguarda experimental de Tom Zé. "Nossas escolhas propõem um novo olhar, ouvido ou tato, na linha que segue o nosso cancioneiro. Penso que posso classificar o meu trabalho como Nova MPB. Mas, com suas diversas nuances, ele também persegue o experimental, o pop e o jazz" - enumera o cantor.
O músico paraibano observa o quanto é interessante notar como somos, na música brasileira, uma extensão de experimentações estéticas, propostas dos anos 1960 e 1970, "buscando renovação sobre a música do nosso tempo, a partir do nosso próprio habitat cultural".
Amor como ato político
O processo de conexão de ELON com o seu público se dá através da reflexão sobre a natureza e "questões existenciais e afetivas". Para ele, essa seja, talvez, a primeira ligação humana entre o artista e quem lhe dá audiência. "Mesmo trazendo certa densidade, o show "TATEIA" se faz muito próximo do público, através do humor e da sensualidade de uma dor elegante. É no espetáculo que temos experimentado e descoberto esse lugar de conexão" - afirma.
O músico enfatiza que a vida é política. E, como dimensão da vida, a arte é - em sua avaliação - atravessada pelo contexto e pelas relações que temos. Em tempos de tanta violência e transformações individuais e coletivas, para o compositor, o amor é uma construção e, sobretudo, um ato político. ""TATEIA" foi concebido no contexto da pandemia. Foi um jeito de reagir ao que passamos em comum mesmo, no distanciamento".
Musicalmente, o artista acredita que o Brasil vive, hoje, um momento de fertilidade. Isso porque, segundo ele, tem-se produzido "muita coisa interessante na música brasileira contemporânea", por conta, talvez, de hoje em dia haver "muito mais acesso à diversidade, através das plataformas digitais". Por outro lado, ELON observa, também, que há uma potência reprimida, "que precisa encontrar espaço sustentável no mercado, para ter acesso a mídias mais amplas". "A Paraíba, por exemplo, é um fervor de criação que o país ainda não conhece. Acredito que essa circulação que faremos seja parte de algo grande, que já está acontecendo. De algum modo, sim, estamos conseguindo furar bolhas. Sempre pareceu muito difícil alcançar esses espaços. É preciso abrir caminhos. E estamos em movimento" - comemora.
A turnê de ELON e Helinho Medeiros - que também integra, há 10 anos, a banda de Chico César - resulta da aprovação do projeto no edital "SESC Pulsar". "Estamos produzindo tudo com muito afeto porque acreditamos na mensagem que esse projeto leva ao mundo" - conclui o artista.
O show "TATEIA" ocorre hoje, às 20h30, no Teatro da Rotina: Rua Simão Álvares, nº 697, em São Paulo.