segunda-feira, 23 de maio de 2022

Confira 'Morto por Dentro', novo single da Cine Sinistro

Horror punk com personalidade é a principal marca da banda carioca

  

Basta ouvir os primeiros acordes de ‘Morto por Dentro’, novo single da banda carioca Cine Sinistro (ouça aqui), para começar a agitar, sozinho ou acompanhado, um ‘pogo' - dança típica de quem abre as famosas “rodinhas” dos shows punks, Brasil e mundo afora.


 

Foto: divulgação

Formada em 2016 pelo baixista Godinho (77 Idols) e o vocalista Joaquim Roma, o grupo faz um horror punk dançante, voltado para quem ama ‘pogar’ ao som da boa e velha sonoridade punk rocker.

 

O baterista Rafael Bralha (ex-Nove Zero Nove) é uma prova disso. De fã, que acompanhava os shows do grupo, ele se juntou a Roma, Godinho e ao guitarrista Pablo Pecky para, em 2020, transformar-se em músico integrante. Fisgado pelo som, acabou ficando. “A princípio, era para dar uma força nas novas gravações” – recorda Bralha, aos risos.


Foto: divulgação


 

Além da sonoridade ‘clássica’ de Ramones e Misfits, ouvidos mais atentos podem perceber, dentre as influências da Cine Sinistro, algo de Teen Idols; Alkaline Trio; Zumbis do Espaço; Rancid e Carbona - de quem regravaram ‘Esqueletos em Todo Lugar’, do álbum ‘Taito Não Engole Fichas’ (2002).

 

A propósito, em 2018, os músicos ficaram sabendo que o selo Shitface Records estava preparando o tributo ao Carbona, ‘No Ritmo do Bubblegum’, e fizeram “de tudo para entrar”. “Somos realmente fãs dos caras e achamos que a música ‘Esqueletos em Todo Lugar’ combinava muito com o nosso estilo! Estávamos certos!”- lembra Roma.

 

Inesgotável criatividade musical

 

Em seu processo de composição, munido de uma frase ou ideia que lhe vem à cabeça, o vocalista Joaquim Roma faz a letra em cima de uma melodia e a encaminha para os outros músicos lapidarem o arranjo. O Godinho pega aquela ideia inicial e faz a mágica dele, incluindo os teclados. Depois, entramos em estúdio para ver como fica com todo mundo junto” – detalha o músico, que pondera ser este um momento cansativo, mas que, no geral, “é bem divertido”, porque a banda fica com muitas opções. “Escolher as músicas mais legais é uma das partes mais divertidas para mim” – empolga-se o artista.

 

Rafael Bralha destaca que Joaquim é muito produtivo: “faz música todo dia”. Há ocasiões, inclusive, que o companheiro de banda envia mais de uma para os outros instrumentistas. “Fica até difícil escolher. Selecionamos as melhores e vamos ao estúdio, trabalhar nos arranjos e na estrutura - nada de muito complexo ou misterioso” – detalha o baterista.

 

Novo disco à vista

 

A Cine Sinistro está planejando lançar, ainda em 2022, o seu primeiro disco. Para isso, já gravaram metade das faixas e o single ‘Morto Por Dentro’, que está em todas as plataformas digitais. Eles estão prestes a gravar a outra metade do álbum “e o Joaquim não para de aparecer com mais opções” – comenta, rindo, Rafael Bralha, que comemora o fato de que, ao terminarem este registro, terão material suficiente para gravar outro disco. “O que é muito bom! Os artistas hoje lançam um álbum a cada cinco anos. Nossa intenção é resgatar aquele ritmo de um álbum por ano, tipo Ramones mesmo” – compara Bralha.  

 

A Cine Sinistro faz parte da guerrilha a que o underground como um todo participa. É umas das muitas que junta os amigos e sai por aí, mostrando o seu som autoral, no velho lema punk – ‘do it your self!’ (faça você mesmo!).

 

Músico “rodado” na cena carioca, o baterista Rafael Bralha destaca que fazer rock and roll no Rio de Janeiro sempre foi uma empreitada desafiadora, porque a cidade não oferece uma demanda pelo rock, que permita ao menos que as bandas empatem os investimentos com os demais estilos musicais. “Então, a chance de pagar as contas tocando é muito pequena. Essa coisa de cidade balneário, praia, sol, Maracanã, futebol... A galera acha que o rock não "orna" muito bem com nada disso e prefere os ritmos popularescos de sempre” – lamenta Bralha, afirmando ainda que as poucas brechas que existem foram forjadas pelos próprios músicos, “criando e vendendo itens cada vez mais diversificados de merchandising, promovendo crowdfunding, lançando discos, juntando forças para cair na estrada e ampliar o alcance do trabalho”. “Quem está no rock é para se foder mesmo, e isso nunca intimidou ninguém” – brada Bralha.

 

Conheça o trabalho da Cine Sinistro:  

 

Spotify https://open.spotify.com/artist/587ZgOQJegHbyj7pNu9WiR

Youtube https://www.youtube.com/c/CineSinistro77

Bandcamp https://cinesinistro.bandcamp.com/

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Uma “Fresta” na diversidade musical brasileira

Banda de ska punk brasiliense, Caos Lúdico lança novo single



 
Imagem: divulgação



“O que preciso é te escutar, para construir as nossas memórias”. Este trecho da letra de “Fresta”, novo single da banda brasiliense de ska punk, Caos Lúdico, é um dos que remetem o ouvinte a um clima de diálogo e convivência pacífica: uma espécie de reflexão e troca constante, “para colocarmos os sentimentos e os desejos no lugar”. Esta é uma das visões de mundo do vocalista João Ramos, que – assim como muitos outros seres humanos – passou por momentos perturbadores durante a pandemia de covid-19. 



Ele destaca que, nesse intervalo histórico das nossas vidas, muitos buscávamos meios para descomplicar situações e voltar aos prazeres diários. Nas palavras do artista, “devemos nos entregar à vida!”. 


 Além do vocalista João Ramos, a Caos Lúdico conta com Rafael Marreta (Baixo), Guilherme Wanke (Bateria), Haniel Tenório (Trompete), Felipe Andrade (Saxofone) e Luciano Batista (Trombone). Foto: Henrique Maresch.




É com essa entrega que a Caos Lúdico executa o seu processo criativo. Uma das principais características do instrumental da banda é a sincronia do jogo de metais – cujos arranjos contaram com a colaboração e a parceria de Bruno Portella e Jefferson Moura. Nessa “conversa” entre instrumentos, João constrói a letra e as estruturas das músicas, que se casam com a criatividade dos demais músicos.



O sol nasce para todos

 

Para o vocalista, os modismos que “bombam” no meio musical brasileiro de hoje – sertanejo, pisadinha, funk ou pagode -, não são necessariamente um empecilho para a diversidade musical do país. De modo que, com a sua sonoridade peculiar como trilha sonora, ele e seus amigos seguem promovendo um “caos lúdico” necessário para construir a própria carreira e buscar cada vez mais espaço nesse mercado. 


“O processo é esse! Respeitamos todos os demais estilos musicais. Todos têm seus momentos e respectivos espaços. Não podemos nos prender a isso e vamos continuar colaborando para aumentar ainda mais a diversidade da música brasileira. Ela sempre fica em primeiro lugar!” – ressalta João. 


Mas afinal, o que anima os caras da Caos Lúdico a fazer um ska punk autoral, mesmo sem o histórico apoio, que nunca tivemos, no Brasil, para todos os setores da cultura – e menor ainda, no auge da pandemia? João responde: “o simples fato de fazer arte e transmitir sentimentos através da música. Isso pode soar simples, mas é o que realmente nos anima. Ganhamos os nossos dias e ajudamos os outros a ganharem os seus, com essa arte!”.



quinta-feira, 19 de maio de 2022

Em “Lunática”, Ana Sucha revela as diferentes fases de sua musicalidade

 

Trabalhos autorais da artista alcançaram quase 3 milhões de streamings

 

Desde que se entende por gente, a cantora, compositora e produtora Ana Sucha gosta de explorar ritmos nas coisas. Aos 12 anos, ela deixou de batucar nas costas da prima para tocar bateria e, a partir daí, explorar outros instrumentos. Sua relação com o canto começou em 2014. Para ela, o ato de cantar é, ao mesmo tempo, uma técnica “traduzida”, executada por suas cordas vocais, e um sentimento, captado ao ouvir outros elementos da música. Tal acúmulo e diversidade artística podem ser sentidos nas 8 composições de “Lunática”, segundo álbum da cantora brasiliense, que bebe do Pop Indie à nova MPB.


Imagem: divulgação


 

“A palavra e os significados das minhas músicas, para mim, são o que me conectam com a canção, comigo mesma” – ressalta a artista, que produziu e assinou 100% do novo trabalho durante a pandemia, em parceria com o seu “irmão de coração”, Dennis Novaes.

 

Multitarefa, Sucha é daquelas musicistas independentes que fazem de tudo. Do primeiro disco, “Inês” (2016), aos singles, ela assumiu diferentes atividades. Mas valeu a pena. Os trabalhos autorais de Ana Sucha alcançaram cerca 3 milhões de streamings. Num país tão carente da promoção de sua própria diversidade musical, trata-se de uma superação e tanto, especialmente para quem cria e luta por um lugar ao sol. A artista está feliz com a marca.


Foto: divulgação


 

Fiz a composição, passando pela produção; os conteúdos para diferentes redes sociais; a edição de vídeos; as artes; os clipes; os planos de lançamento para cada coisa e a assessoria de imprensa. E essas são só algumas das coisas que a gente acaba tendo de fazer” – enumera a cantora, que agora faz parte do selo Peneira Musical. Sucha acredita num papel mais relevante do Estado, na criação de oportunidades para os artistas brasileiros.

 

“Nesses últimos tempos, em especial, esse papel tem ficado cada vez mais distante, principalmente para a galera que está no mesmo momento da carreira que me encontro agora. O maior desafio dos artistas é não ter dinheiro. Temos uma diversidade absurda de talentos no nosso país e é muito triste acompanhar de perto a desvalorização e a falta de oportunidades e reconhecimento do nosso trabalho” – lamenta a musicista.

 

Canções plurais, no mundo da lua


Foto: divulgação


 

As conexões de Ana Sucha com as fases lunares se refletiram no processo criativo do álbum. A artista destaca que há, em “Lunática”, mudanças de som, tema, letra e vibe, em cada música, e que “cada um vai se identificar da sua própria forma com o álbum”.

 

Vivenciando o isolamento social, trancafiados, sozinhos em casa, Sucha e Dennis Novaes compartilharam momentos, alegrias, tristezas e medos. Uma das coisas que faziam, quase que diariamente, era chamar um ao outro, quando a lua aparecia na varanda da sala.

 

“Era o nosso momento de contemplar algo externo a nós e ao nosso apartamento. A lua passou a fazer parte do nosso processo. Ao nos conectarmos com ela, a gente se conectava com a gente também” – inspira-se a cantora.

 

Ouça “Lunática” aqui!  

 

FICHA TÉCNICA 

Produção Musical: Ana Sucha

Arranjos: Ana Sucha

Gravação e edição: Ana Sucha 

Mixagem e Masterização: Bruno Giorgi

Capa: Mari Blue



Instrumentos 

Bateria eletrônica, sintetizadores, guitarra, violão, coro, chocalho, atabaque, djambê, conga, piano, efeitos: Ana Sucha 

Baixo: Ana Sucha/ Bruno Giorgi



Ordem das faixas do álbum:



1. Solar 

Anna Sucha / Dennis Novaes

Canção lançada em Outubro de 2021.



2. Sem Medo

Anna Sucha / Dennis Novaes

Canção inédita 



3. Chapadas e Peladas

Anna Sucha / Dennis Novaes

Canção lançada em Março de 2022.



4. Seu Lugar 

Anna Sucha / Dennis Novaes

Canção inédita 



5. Sheila 

Anna Sucha / Dennis Novaes

Canção lançada em Março de 2022.



6. Deixa o Som Rolar

Anna Sucha / Dennis Novaes

Canção inédita 



7. Um Peixe Que Voa 

Anna Sucha / Dennis Novaes

Canção inédita 



8. Lunática 

Anna Sucha / Dennis Novaes

Canção inédita

quarta-feira, 11 de maio de 2022

TORTO lança "Expediente", álbum concebido em ambiente de trabalho

 

Música experimental-instrumental de Leandro Lima bate ponto nas plataformas de streamings  



Leandro Lima. Foto: Xico Pessoa


Redescobrir e traduzir o novo, em meio à rotina cotidiana, é uma das missões de todo artista. Em “Expediente”, o músico e designer pernambucano Leandro Lima, idealizador do projeto TORTO, seguiu à risca essa premissa. Por trás da gravação de algumas das sete faixas do álbum, pode-se até perceber as vozes dos companheiros de trabalho do designer Leandro, um artista cuja musicalidade - do post-rock ao eletrônico - dá vida e percepção a uma realidade que, para muitos, beira o banal.

 

Confira um pouco desse processo criativo, nesta entrevista exclusiva que o artista concedeu ao CMIND!           

 

Por que a abordagem do dia a dia do trabalho "convencional" na sua música? 

 

Primeiramente, porque era onde eu estava, enquanto desenvolvia as músicas (risos). Sempre procuro, de certa forma, dar uma fugida das coisas que faço cotidianamente, para mudar o foco e pensar em outras perspectivas ou simplesmente me divertir. Música vem a ser um desses escapes para mim (na verdade, os dois: fuga e diversão). E isso entra totalmente em conflito com as idealizações de um trabalho corporativo. 

 

Sua música parte de um questionamento acerca do aspecto mecânico e melancólico do trabalho cotidiano?

 

Também. Não necessariamente partiu da “melancolia”, mas ela acabou aparecendo, por causa dos processos mecânicos. Generalizando, o trabalho ocupa a maior parte do dia. Quando passamos a enxergar que ele pauta a maioria das decisões e prazeres cotidianos, é algo um pouco assustador.  As músicas do “Expediente” vêm dos sentimentos gerados por essa inquietação e pelos questionamentos acerca da relação entre lazer e trabalho, além das trocas e recompensas que ele oferece. Digo recompensas, não só me referindo ao dinheiro, mas, principalmente, às relações interpessoais e vínculos criados nesse ambiente: a famosa "hora do cafezinho".  Não vejo o trabalho sempre como algo ruim. Há os dois lados, como tudo na vida. Mas entendo o peso e o significado que essa palavra carrega, em todo o seu contexto histórico.

 

Capa de "Expediente"

Como você encara o senso comum de que o trabalho com música, arte e cultura - de uma forma geral - não é "útil" para a sociedade, por não trazer um resultado "palpável"? 

 

Não sei se é um senso comum (espero que não); mas acredito que muita gente pense assim mesmo. Acho um pouco sem sentido essa afirmação. Acredito que não exista alguém, em estados ditos "normais", que não absorva algum tipo de arte e ou cultura. Então, o fato de não achar "útil" é no mínimo irresponsável com o que a pessoa que pensa assim consome (sim, ela também ouve música). Fui criado em uma família que sempre consumiu muita arte, em todas as suas formas e plataformas. Embora nunca tenha sido uma forma de trabalho, o papel do artista na sociedade sempre ocupou um lugar de prestígio e de grande reconhecimento.

 

De que forma a indústria cultural uniformiza a expressão artística, tornando-a sem subjetividade, e qual é a importância de se fazer música experimental e questionadora, especialmente no contexto social que vivemos hoje, no Brasil? 

 

A indústria sempre teve, ao longo dos anos, várias ferramentas para mensurar o que está em ascensão, massificar e vender tudo o mais rápido possível. Ultimamente, estamos vivendo na era do "big data", em que algoritmos têm à disposição, de forma rápida e fácil, informações fundamentais para a percepção do que é mais facilmente aceitável e rentável para a indústria. A fórmula da repetição nunca esteve tão acessível. Acredito que "cultura de massa" sempre vai existir; talvez, cada vez mais nichada, mas, de alguma forma, sempre vai "nortear" as pautas e os caminhos que a indústria segue. 

 

Por outro lado, também vai ter gente experimentando. O ser humano é um bicho muito curioso. Acredito que seja impossível fazer com que essa busca pela novidade acabe, tanto da parte de quem faz como de quem busca. E aí, acho muito importante sites como este e como o Hominis Canidae, que fazem esse papel de ajudar e disseminar esses experimentos.

 

É uma relação de eterna dependência. Para haver uma quebra de paradigma, tem que existir um paradigma, senão, não há ruptura. Fica aí dica de uma série hypada, mas que gera bons questionamentos sobre o trabalho.

 

E a música experimental tem importância fundamental, em todo esse processo. Experimentar foi o que levou toda a humanidade até aqui. Com música, não poderia ser diferente.  A meu ver, nem toda música é questionadora, mas toda música pode gerar questionamentos. Depende do ponto de vista de quem a está escutando. A melodia, por si só, já traz questões inatas. A música experimental é questionadora, desde seu ato de criação. Experimentar é questionar na prática!

 

Experimente “Expediente” aqui, nas nove plataformas de streamings.

 

Lançamento: selo Hominis Canidae REC.

 

sábado, 8 de janeiro de 2022

Rock Brasil respira ar puro em ’12 Doses de Veneno’, de Celso Madruga

 Trabalho do músico honra memória de Cazuza e expoentes do rock and rol nacional e internacional



Capa do álbum: Facebook.



Poeta desde os 15 anos de idade, antes mesmo de fazer música, o cantor, compositor e gráfico Celso Madruga (55) já ouvia muito rock and roll nacional e gringo dos anos 80. Em 1985, o Barão Vermelho de Cazuza e Frejat apareceu na vida dele como um oráculo de grande influência e fonte de inspiração; além, claro, dos clássicos internacionais: Led Zeppelin, Iron Maiden, AC-DC e The Who.

“Eu achava as bandas nacionais muito pops, com uma sonoridade leve demais. O Barão foi a que achei ter um som um pouco mais pesado, com as letras, do Cazuza, mais sérias e a ver com a minha realidade e as coisas que eu pensava” – lembra.



Imagem: Facebook


Gravado em 2020, durante a pandemia, o primeiro álbum autoral de Celso Madruga, ‘12 Doses de Veneno’, reúne todas as melhores músicas que ele fez, ao longo do tempo, desde 2002. O disco bebe muito da fonte de Jimi Hendrix, Led Zepellin, Beatles, Barão, Renato Russo, Raul Seixas, Belchior e Gonzaguinha - outras fontes de inspiração, que “têm um tipo de poesia que mais agrada”. Um pouco de cada.

Escrita em 2002, a primeira faixa, ‘Amor de Aluguel’ e em ‘Piada sem Graça’, de 2008, pode-se perceber uma grande influência da poética de Cazuza.

“Àqueles anos, eu já tinha desenvolvido um jeito de escrever que muita gente compara e diz: ‘suas letras e músicas lembram muito o Cazuza’. Para mim, é um elogio! Além do que ele ter escrito ser sensacional, Cazuza chamava a atenção por sua postura, no palco e na vida. É muito rock and roll!  – admira.   


Um artista brasileiro


Imagem: Facebook.


O gráfico Celso Madruga atua numa sociedade, onde todos os trabalhadores são donos do próprio negócio. No começo, dividir o ‘trabalho sério’ com o da música era difícil. Seus companheiros não curtiam rock e ficavam fazendo graça sobre sua atividade paralela. Nunca levavam a sério. Achavam que era apenas uma coisa de momento. Às vezes, Celso tinha que negociar com os chefes para sair um pouco mais cedo para ensaiar ou tocar em algum outro lugar.

“Comecei a fazer música depois dos 30. Eles acharam que seria apenas uma ‘modinha’. O fato é que eu comecei, não parei e espero não parar mais. Mas minha relação com eles sempre foi de boa. No meu trabalho como gráfico, mexo com arte final e já fiz vários cartazes de shows de bandas minhas, inclusive um, com a sua antiga banda, a Locomotiva (o editor do CMIND e baterista Saulo Andrade tocou nela entre 2003 e 2006), numa época em que o Vladmir, da Levante, estava fazendo um evento. A capa de um EP eu também fiz na gráfica. No geral, sempre procurei fazer as minhas coisas sem esse tipo de favorecimento. Usei uma ou outra vez, apenas, sempre com o consentimento dos outros colegas” - recorda.   

História no rock autoral

A estrada de Celso Madruga é longa. O Barão Vermelho também faz parte da trajetória de sua primeira banda, a ‘Alma da Noite’, de 2002. À ocasião, Celso mandou uma carta para a antiga revista Bizz, pedindo material do Barão e, nesse ínterim, conheceu um baixista, o Antônio Bastos, que, assim como Celso, também morava em Niterói e era fã de Cazuza e Barão Vermelho.

“Começamos a trocar figurinha. Mostrei a ele o meu primeiro caderno de poesias registrado, o ‘Peso das Palavras’. Ele gostou dos poemas e sugeriu que montássemos uma banda. Fui para o vocal e arrumamos um guitarrista, amigo meu, que frequentava a mesma igreja católica que eu, e um batera, um parceiro do meu trabalho que tocava” - ressalta.

Eles começaram a ensaiar apenas músicas autorais, no que foi a primeira vez que começou a de fato fazer suas próprias canções. Celso ia para a casa de Antônio e os parceiros as faziam ao violão, levando-as depois aos ensaios. Em três meses, já tinham em torno de 10, 12 trabalhos próprios.

“Estávamos amarradões. Mas o Antônio teve de se mudar para o Rio (a banda era toda de Niterói) e disse que ia montar outro projeto por lá, ‘A Trilha’, e me chamou para cantar. Fiquei dividido entre as duas bandas. Gravamos um primeiro CD demo, ‘Os Sonhos Não Morrem’, em 2004, e conseguimos colocar um blues, ‘Quem Ama’, para tocar na antiga Rádio Cidade” – destaca.

Com a Alma da Noite, em Niterói, Celso seguiu ensaiando e tocando em festivais. Em 2006, gravaram uma demo, sem nome, com apenas três faixas. Após um tempo, a banda se dispersou e acabou.

Em 2017, um amigo, o baterista Sardinha, chamou Celso para montar uma banda cover, focada em rock dos 80, a Plano Z. Lá ficou até 2019, quando colocou uma amiga vocalista para substituí-lo.

Parcerias musicais foram fundamentais no trabalho de Celso Madruga

Produtor do álbum, o guitarrista Alex Maldini, integrante da banda Biographia 54, começou a amizade com Celso Madruga num luau, em 2014, em homenagem a Cazuza. Além de Cazuza e Barão, eles tinham mais coisas em comum, em termos de composição: influências musicais como Led Zepellin, Black Sabbath, Iron Maiden, entre outros. A partir dali, começaram a dialogar.  



Alex Maldini. Foto: Divulgação. 



“Passei a prestar mais atenção nas redes sociais do Celso Madruga. Fiz alguns vídeos, cantando e replicando o trabalho dele. Ele curtiu bastante e também passou a acompanhar o meu trabalho. Tenho uma ligeira impressão de que ele gosta do meu jeito de tocar. A nossa linguagem musical é muito parecida. Fiquei muito feliz com o convite para produzir ’12 Doses de Veneno’. Para mim, é uma honra fazer parte de um trabalho do Celso Madruga, com essas composições sensacionais que ele criou” – elogia Maldini.  

Exemplo de superação, outro amigo e parceria de Celso é o cantor e compositor Bernardo Santos, que tem participações em duas faixas de ’12 Doses de Veneno’.

“O Bernardo, apesar do câncer de medula que contraiu em 2014, é uma pessoa muito otimista, acredita na vida. É um grande talento” – exalta Celso.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Claos Mózi & Alcachofra debutam com álbum “A minha vez, a vez de nós”

 Primeiro disco do músico conta com a participação de Júlia Vargas, Daíra e João Donato


Disco "A minha vez, a vez de nós". Imagem: Divulgação

O processo criativo e, principalmente, coletivo de gravação do novo álbum do compositor, cantor e poeta mineiro Claos Mózi (ex-Giras Gerais), “A minha vez, a vez de nós” (Spotify), faz jus ao nome. Aglutinador de ideias e talentos, Claos acredita no legado do seu primeiro trabalho autoral - totalmente concebido, nos mínimos detalhes, por ele, que uniu suas composições de 2018 e 2019 ao talento de diferentes músicos e compositores. Dentre eles, nomes como o consagrado bossa-novista João Donato, que gravou “Mó do Amor” e "Todo Leve"

 

João Donato. Foto: FOTO EKATERINA BASHKIROVA/DIVULGAÇÃO


“Conheci o João Donato no show dele, no Teatro Baden Powel, em Copacabana, a convite da Ivone Belém (esposa de Donato e gestora do teatro). Quando toquei com o Giras Gerais no Baden, em 2017, conheci a Ivone, que teve contato com o meu trabalho e gostou. Gravamos duas músicas na casa do João. “Mó do Amor” tem a presença dele e coroa todo esse processo” – conta Claos.


Claos Mózi. Foto: Neltur

Naqueles anos pré-pandêmicos de 2018 e 2019, já havia um contexto de resistência ao fascismo “democrático” brasileiro – o que pode ser notado no samba “A Vez do Morro” e em “Transgressão”, que denuncia a hipocrisia do moralismo religioso no país. Recheado de canções inéditas, a concepção do álbum contou com o empurrãozinho do guitarrista e incentivador da união Claos Mozi & Alcachofra, Augusto Feres – que, junto a Yuri Shuller, foi uma das figuras fundamentais na produção e mixagem.

Augusto Feres. Foto: Facebook. 

“O processo criativo com o Claos foi muito fluido. Rolou uma química foda entre todo mundo, desde o primeiro ensaio. Queríamos chegar numa sonoridade objetiva, com poucos elementos; ter a coisa pesada e noize. Mas o tempero regional é também o forte desse trabalho” – ressalta Feres.

Elenco de peso

O disco também contou com a participação da cantora Daíra; do acordeonista e pianista João Bittencourt; do cantor, violonista e compositor Mario Broder – cria do Farofa Carioca, ele substituiu Seu Jorge na banda – e do cavaquinista e compositor Valmir Ribeiro – que é da formação original do Farofa. Broder canta e Valmir toca cavaquinho, em duas músicas: “A Vez do Morro” e “Junta e Sai”.   

Em “Tambaquis”, participam a cantora Júlia Vargas e o violinista e cineasta Josafá Veloso - com quem Claos compôs a música -, ao violino. 

 

Júlia Vargas. Foto: Rário Graviola


No tango “Incêndios”, Mózi iniciou a poesia e depois a enviou para o compositor André Vargas dar continuidade. O cantor, compositor e violonista Ivo Vargas e o compositor Nicolas de Franchesco enviaram algumas sugestões de melodia e Claos a terminou, colocando a harmonia na canção, que também contou com a colaboração do cantor e compositor Paulo Beto.    

 


 

“A base disso tudo foi a banda Alcachofra. O Feres me apresentou esse trio, do qual ele já vem participando. Fizemos alguns shows e ficamos no ímpeto de fazer o álbum juntos, com o trio. Gosto de trabalhar coletivamente, de embarcar todo mundo com quem costumo trabalhar. À época, cantávamos canções minhas, que a Júlia havia gravado. As músicas são bem heterogêneas. A ideia foi colocar tudo o que estava pensando no momento. Eu tinha de fazer algo” – destaca Claos.

domingo, 19 de dezembro de 2021

“Quarto Mundo” relata universos particulares de Tacy

Novo trabalho da artista é recheado de baladas para ouvir a dois
Imagem: Divulgação

Como muitos músicos brasileiros – e mundo afora -, Tacy viveu a pandemia em seus diferentes momentos. Entre as restrições impostas pela covid, ela encontrou brechas para gravar, realizar algumas apresentações ao vivo e, principalmente, compor. 



 Retratando um dia-a-dia comum a todos nós, as músicas de “Quarto Mundo” transbordam a leveza de uma poética à flor da pele e para lá de intimista. Do banho, “para relaxar”, a um gole de café, e, claro, aquele tempinho precioso para dedilhar um violão e “falar de você”, “Confissão” resume a essência de “Quarto Mundo”, música que dá nome ao álbum e conta um pouco da história de Tacy e sua companheira, a produtora artística do disco Chrisce de Almeida (foto). 




Imagem: Instagram da Tacy




“Quando eu e a Chrisce nos casamos, fomos morar num quarto, em São Paulo, carinhosamente apelidado de “quarto mundo”. A letra da música foi inspirada naquela época boa, do início de tudo, e tem muito a ver com esse momento isolado da gente, em que vivemos o quarto como se fosse todo nosso próprio mundo particular” – compara Tacy.



 

Gravado em meados de 2021, o disco foi inteiramente feito com uma equipe minimalista, que gravou, a princípio, apenas duas músicas; mas tudo fluiu tão bem, que surgiu a ideia de fazer um disco inteiro, aos poucos, no ritmo da reabertura das atividades presenciais. 




O multi-instrumentista e produtor do álbum, Daniel Oliveira (foto), que gravou violões, baixo, cavaco, violino, bateria e cajon, destaca que Tacy é uma compositora muito ativa, que tem um trabalho sensível, delicado, com grande pegada de voz e violão. Das músicas que ela já havia gravado, Daniel remixou algumas, regravou outras e deixou tudo com a cara da artista.


 
Imagem: Instagram do Daniel




“Foi muito legal passar esse tempo todo com ela, nessa jornada, no dia-a-dia, vendo-a compor e encontrar soluções, ao vivo, durante centenas de horas, encontrando os caminhos para o disco” – conta Daniel. 




 Além de Tacy e Daniel, o disco contou também com a participação de Cesinha, que fez a bateria de "Confissão" e "Esfinge". 



 Distribuído pela Tratore, “Quarto Mundo” foi gravado nos estúdios Quebra-Cabeça, Menol e na casa de Cesinha e Lia Sabugosa. 



O primeiro álbum autoral de Tacy foi “O Manifesto da Canção”, gravado em 2017. 


 
“Quarto Mundo” será lançado, ao vivo, no dia 4 de fevereiro, na Sala Nelson Pereira dos Santos, em Niterói (RJ).

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