A performance solo do músico Rodrigo de Andrade, no projeto Elefante Cinza, mostra, ao público e a ele próprio, a oportunidade de se experimentar a música como um todo, a partir do que o autor pensa ser o ideal para a sua própria obra.
Trabalho recheado de críticas e provocações, o EP "O Riso dos Que Não Choram" passa pela questão da artificialidade, inclusive a que vemos, diariamente, nas redes sociais. Afinal, avalia Rodrigo, a vida atual “é muito riso e pouco choro":
"Outro ponto que deu vazão ao nome do álbum foi algo mais pessoal e cultural. Pessoas que, mesmo na privacidade, engolem o choro ou - mesmo inconscientemente - não o deixa cair”.
Foto: Gabriela Salem |
Para o artista, a desvantagem em estar só, em seu processo de criação, deve-se ao fato dele não poder compartilhar ideias e momentos bonitos das composições, o que, às vezes, pode deixá-lo “no escuro”, sem saber se determinada canção está ou não “realmente boa”. Ele analisa a principal diferença entre atuar sozinho e com outros companheiros de música:
“Com uma banda cheia, muitas vezes você tem de renunciar a determinadas ideias. Ironicamente, fazendo isso sozinho, são tantas ideias
possíveis que você acaba brigando consigo mesmo, sobre qual seria a melhor.
Você sempre perde e sempre ganha”.
Resistência criativa
Rodrigo destaca que a rebeldia é a principal inspiração para seguir criando e compondo no Brasil de hoje. Segundo o músico, apesar do enorme poder cultural, o investimento para o artista brasileiro é escasso. O performer sublinha que, dentre os desafios para músicos independentes, em todo o mundo, destaca-se a falta de controle de sua própria música, em tempos velozes e de muita superficialidade, preconizados pela Internet:
“O mundo inteiro está com pressa. São poucas as pessoas com paciência de sentar e ouvir um álbum inteiro. Não à toa, o mercado nunca esteve tão lotado assim de singles. Daqui a pouco, vão criar um nome novo para um corte só da música. Melhor dizendo, isso já existe: chama-se TikTok”.
Elefante Cinza é uma das obras mais diferenciadas da nossa época. Sensibilidade muito pouco percebida em nosso cotidiano. Muito bom Rodrigo! Continue com estas maravilhas!!
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