Foto: América Cupello. |
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do experimentalismo e pioneiro da música eletrônica no Brasil, o músico e
radialista Sérvio Túlio viveu os áureos tempos do rádio no país – bem recentes,
aliás. “Lembro-me de quando houve aquele grande apagão aqui, em 2001, que tudo
parou de funcionar. Estávamos na rua, num boteco, bebendo; aquela escuridão...
E só conseguíamos ter notícia do que acontecia pelo rádio. Para mim, aquilo foi
uma experiência apavorante e ao mesmo tempo fantástica. Parecia que eu estava
num filme, que tínhamos voltado no tempo. É isso que eu sinto quando trabalho
com rádio, que estou numa máquina do tempo que eu posso conduzir para onde
quiser somente através do som, música, ruídos, textos, palavras. Desde criança
sou fascinado por rádio”. Pesquisador voraz, ele é, também, uma referência nacional
em música erudita. Nesta entrevista ao CMIND – Cena da Música Independente, o
artista fala de sua trajetória. Confira!
CMIND - Você é
considerado por muitos como um dos precursores da música eletrônica no Brasil.
No Saara Saara, percebe-se um misto de satírico de Kraftwerk, ópera e elementos
dançantes, como o batidão do funk. Fale-nos um pouco dessa experiência
inovadora...
Sérvio Túlio - É incrível quando a gente para e
pensa que só agora, na segunda década do século XXI, que o conceito de “Música
Eletrônica Brasileira” meio que começou a ser reconhecido e aceito. Na verdade,
desde as décadas de 50 ou 60 do século passado, temos nossos pioneiros neste
caminho. É claro que aí estou me referindo ao campo da “Música de Concerto”,
mais comumente chamada de Música Erudita, ou Clássica. Compositores
vanguardistas na época, que ainda estão aí, ativos, como Jocy de Oliveira e Jorge
Antunes, por exemplo, são uns dos pioneiros nesta aventura por aqui. Nós e
alguns outros grupos, de certa forma, somos precursores da safra pós rock
progressivo, pós-punk, quando os sintetizadores começaram a ter mais destaque,
principalmente após as experiências de bandas estrangeiras como Kraftwerk, que
você citou, e produtores como Giorgio Moroder, os quais começaram a inserir
mais estes recursos estéticos na música pop. Isso acarretou que, nos anos 80,
muitos músicos começaram a seguir por este caminho, que também tem lá suas
várias subdivisões. Algumas bandas do Rio, São Paulo, Curitiba e Brasília
também percorreram esta trilha, sendo que, no Rio, a que mais se destacou,
talvez, assumidamente eletrônica, foi o Saara Saara, principalmente pelo apoio
da Rádio Fluminense FM de Niterói. Alguns produtores da emissora curtiram o som
da banda, que acabou entrando na programação normal, despertando o interesse
dos ouvintes. Eu e o Raul Rachid, que era a outra metade do Saara Saara, já nos
conhecíamos desde a infância quando ainda morávamos na cidade de Bom Jesus do
Itabapoana (RJ), onde nascemos, no norte-fluminense. Ambos estudamos música
desde moleques e acabamos nos mudando para Niterói, a fim de continuar os
estudos. E foi assim que, em meados de 1985, formamos, meio que sem querer, só
por diversão, o Saara Saara, utilizando apenas um teclado Juno 106 da Rolland,
um polyritmo com defeito como bateria e um gravador cassete, no qual usávamos
material gravado com vinhetas de rádio, TV e mais o que desse na telha na
mistura sonora toda. Queríamos um guitarrista, foi quando apareceu o Luiz
Eduardo Carmo, o “Bum”, recém-chegado dos USA, que também estava a fim de
montar uma banda que misturasse eletrônica. Ele trouxera na bagagem um tascam
de quatro canais e uma bateria eletrônica, se não me engano, uma TR-707, sei
lá, uma dessas.
Estava
formado então o SAARA SAARA, cujo nome surgiu porque esse era o nome da
primeira demo que gravamos, de forma que a Jacqueline Azeredo, na época
locutora da Maldita, sugeriu que a banda também se chamasse assim. Na época,
fazer música eletrônica não era uma coisa vista com bons olhos, principalmente
entre o pessoal mais radical do rock. Diziam que, para lidar com música
eletrônica não precisava saber música. E isso para nós era estranho, pois ambos
tínhamos uma formação musical até super careta: aulas de piano, teoria,
conservatório, escola de música, essas coisas que muitos roqueiros que falavam
isso não tinham... Hahaha... Mas nunca nos importamos e até nos divertíamos com
isso. O importante era criar, produzir, o prazer e a diversão, sem paranóia de
tentar agradar ou fazer sucesso.
Como
era um trabalho eletrônico, porém artesanal, não tínhamos computadores,
sequencers, nada sofisticado. Nunca passou pela nossa cabeça tocar em shows ao
vivo. Mas depois de um ano gravando várias demos, tocando na rádio e tendo uma
resposta fantástica de audiência, a emissora insistiu que fizéssemos o nosso
primeiro show. Esta estreia aconteceu no Teatro do Planetário da Gávea. Eu
pilotava o cassete com samples e os pedais de efeito, o Raul se virava com um
Juno 106 e um DX7 Yamaha emprestado, enquanto o Bum tocava guitarra e
sequenciava alguns baixos em um Poly 800 da Korg. E foi assim, no susto e em
pânico, mas morrendo de rir, a primeira vez que subimos num palco para tocar
coisas de nossa autoria, com o teatro abarrotado de gente. No fim, tudo deu
certo e o público aplaudiu, gritou muito, adorou. Foi uma festa. Depois
voltamos com todo mundo bêbado, nós e o povo de Niterói que foi assistir, de
ônibus 999.
Assim
surgiu o Saara Saara, que de 1985 até meados de 1991, foi bastante atuante,
principalmente no eixo Rio de Janeiro – São Paulo. Tocamos nos principais
teatros do Rio, como a Casa de Cultura laura Alvim, Teatro Cândido Mendes,
Teatro Ipanema, Teatro da UFF de Niterói, SESC de São Paulo, e em inúmeras
casas noturnas como Robin Hood Pub, Teatro Mágico e, principalmente, no saudoso
Crepúsculo de Cubatão. Na década de 90, surgiram outros interesses para cada um
dos membros da banda, e então resolvemos não terminar, mas tirar umas férias
por tempo indeterminado, para que cada um ficasse livre para fazer o que
quisesse. O que não impediu que continuássemos nos encontrando para trocar
ideias ou compor novas canções. Mesmo fora de circuito, com o advento da
internet, a banda nunca deixou de ser assunto no meio do rock independente
nacional. Demos mp3 e informações pipocavam online em sites como Fiber online,
Napster, grupos de discussão, orkut, fotologs, enfim, esta coisa toda.
Passei
a década de 90 me dedicando aos estudos e à música de concerto. Nesta época, eu
era integrante do grupo Anonimus, que se dedicava exclusivamente ao repertório
de música da renascença, e com o qual chegamos a gravar um cd pela Niterói
Discos. Cantei em vários grupos do gênero, desde música medieval, barroca,
árias de ópera e até canções do século XIX, do período romântico.
Foi
somente em meados de 2001 que acabei sendo apresentado a alguns novos
produtores de festas em casas noturnas como a Muzik, que rolava na Nautillus,
no Catete, e a ainda atuante festa DDK. E foi por causa deles e do público que
nos sentimos incentivados a voltar a fazer shows. Foi a segunda fase do Saara
Saara, que acabou aparecendo pelas redondezas após uma década de chá sumiço,
sem que fosse apagado da memória das pessoas. Dessa forma, fomos convidados
pelo Leo Rivera, da Astronauta discos, para gravar nosso primeiro cd, que foi
lançado na FNAC e distribuído internacionalmente pela Tratore, veiculado em
rádios estrangeiras. O disco foi gravado em casa, no nosso próprio estúdio,
produzido por nós mesmos e masterizado no estúdio do Kakao, aqui em Niterói
(RJ). E assim continuamos apresentando alguns shows para promover o filho
temporão...hahaha. Foi uma trajetória muito interessante que teve fim em agosto
de 2011, quando estávamos trabalhando no repertório para o nosso segundo cd, “O
Disco dos Seres Imaginários”. Um dia antes de nos apresentarmos ao vivo no
aniversário do programa “Geléia Moderna”, no auditório da Rádio Roquette Pinto,
o Raul se sentiu mal e veio a falecer. Foi o fim do Saara Saara.
Algumas
dessas faixas que sairiam no disco novo do Saara, ganharão outra roupagem,
juntas a novas outras composições que estou organizando e produzindo para o meu
novo trabalho eletrônico solo, que ainda não tem data para ficar pronto, mas
que será montado e gravado no Tomba Studio do Brunão Marcus, meu camarada.
Foto: Facebook. |
CMIND - Na Rádio MEC,
você produz os programas Café Concerto e Música de Invenção. De que forma o seu
trabalho como pesquisador e radialista influencia no de cantor e
compositor?
Sérvio Túlio - Uma coisa está diretamente ligada à
outra. Música e Produção Radiofônica são um binômio importante na minha
formação. O mundo do rádio me instiga a pesquisar a fundo o musical; a história
da arte, escrever enquanto fazer roteiros e música são maneiras de eu colocar
estes conhecimentos em prática através de textos, letras, canções e melodias.
Aprendo muito fazendo rádio. E ao mesmo tempo em que aprendo também posso me
sustentar financeiramente como radialista, o que me deixa livre para, enquanto
músico, eu poder fazer o que me dá na telha, sem me preocupar com mídia, se vai
vender, agradar ou não. E isso é muito bom. Faço música por puro prazer de
fazer. É claro que, se por acaso agradar e se isso também tiver um retorno
financeiro, como já aconteceu algumas vezes, melhor ainda!
CMIND - No Kabarett
Berlin, em parceria com o pianista Glauco Baptista, você pesquisa e interpreta
o repertório popular da primeira metade do século XX. Além de canções de cabaret
de filmes e revistas musicais de França e Estados Unidos, você chegou a
interpretar canções que foram censuradas na Alemanha nazista? Se sim, para
você, qual a importância histórica de trazer à tona estes temas, especialmente
no Brasil de hoje?
Sérvio Túlio - É como dizem: “se tempos sombrios e
canções de cabaret combinam, vem muito cabaret por aí...”. Na verdade, quando
eu e Glauco começamos a fazer este trabalho, nosso foco principal era o que os
nazistas chamavam na época de “Entartete Kunst”, traduzindo: “Arte Degenerada”.
Foi aí que começamos pesquisando repertório de canções que foram proibidas
pelos nazistas, cujos autores foram perseguidos, expulsos ou até mortos em
campos de concentração. Autores cujas obras se destacaram na década de 20 do
século passado, durante a República de Weimar, e que a partir da ascensão do
nazismo, após o ano de 1933 em diante, começaram a ser caçados e suas criações,
proibidas. E isso não se deu só na música. Aconteceu em todas as manifestações
artísticas, nas artes plásticas, literatura, enfim, tudo o que eles julgavam
inadequado, sujo e que, segundo eles, ameaçavam a integridade da família
tradicional e corrompiam a nação germânica. Muitos desses artistas, além de
criar, também eram judeus; outros homossexuais, ou as duas coisas. Por isso,
pessoas como Marlene Dietrich, Friedrich Hollaender, Kurt Weill, Bertold Brecht
e muitos outros deixaram o país. Mas o legado que eles deixaram de produções
feitas durante aqueles anos é um verdadeiro tesouro.
Sérvio Túlio e Glauco Baptista. Foto: Facebook. |
É
engraçado falar isso, porque geralmente as pessoas ouvem o termo “Cabaré” e
ficam encucadas. Como isso pode ter dado tanta confusão? A maioria pensa em
cabaré como um inferninho noturno, um mero lugar para se divertir e ver mulheres
nuas dançando. Existiam sim os grandes espetáculos de vaudeville que eram
apresentados ao proletariado; puro entretenimento. Mas o que destacamos em
nosso trabalho eram os chamados “cabarés literários”, onde se prezava mais a
crítica social e política do que apenas mero entretenimento. Os artistas desses
estabelecimentos confrontavam o público. Não era obrigação entreter ou agradar.
Eram espécies de cronistas sócio-políticos, e muitas vezes bastante vigiados ou
severamente censurados. Embora não descartasse o fato de que também era um
local de entretenimento, o Cabaret era “feio”, “marginal”, ambiente de drogas,
prostituição. E é exatamente a beleza inebriante desta “feiura” que fascinava e
instigava outro tipo de público. Os cabaretistas destes locais específicos como
o “Chat Noir”, na França, o “Überbrettl”, a segunda versão do “Schall und
Rauch” e outros manifestos e estabelecimentos do gênero em Berlim ou Paris,
reuniam um bando de intelectuais de todas as áreas de atuação artística, como
Thomas Mann, Erik Satie, Paul Verlaine, Arnold Schoenberg, Kurt Tucholsky,
Bertolt Brecht, Hanns Eisler, Billy Wilder, uma lista interminável. Na Espanha,
tivemos, por exemplo, o cabaret “Os 4 Gatos”, onde Picasso fez sua primeira
exposição. Só aí temos uma boa ideia do que os cabarés representavam.
E
inspirados nisso, foi que eu e Glauco tivemos a ideia de formar a dupla,
Kabarett Berlin, que acabou ao longo do tempo, ampliando este repertório também
para o cinema, revistas musicais e até canções brasileiras antigas, que tenham
sido escritas nestas mesmas épocas. Trazer este repertório para o Brasil, ou
leva-lo para qualquer outro país, significa primeiramente torná-lo conhecido do
público, fazer com que as pessoas reconheçam a genialidade dessas pessoas que
foram tão maltratadas e perseguidas por um regime político monstruoso, cruel e
injusto, e torná-las conscientes disso. Também existe um lado didático, que
exercitamos muito enquanto músicos, pois falamos da época, das circunstancias
em que essas coisas aconteceram em Berlim, e comparamos até mesmo com o que
acontecia nas noites de nossas capitais aqui, como o Rio e São Paulo. Se
pensarmos em como isto se refletiu no Brasil, precisamos pensar em certos
locais ou ambientes. Não iguais, porém similares. Em termos de música e poema,
penso que talvez seja melhor procurarmos por personalidades como Pixinguinha,
Bastos Tigre, Noel Rosa, Assis Valente, Alvarenga e Ranchinho, Lamartine Babo,
enfim, temos que trilhar por estes caminhos para que os links sejam atados.
CMIND - Músico e
produtor radiofônico, você atuou como radialista e produtor das Rádios
Fluminense AM, Jornal do Brasil AM e FM, e da Rádio Opus 90. Conte-nos um pouco
dessas suas experiências, em rádios com perfis e propostas musicais tão
diferentes... Na sua opinião, o brasileiro ainda ouve o rádio da mesma forma
que o fazia em décadas anteriores?
Sérvio Túlio - Claro que o brasileiro ainda ouve
rádio. De várias formas, desde a tradicional até pela internet, o que está se
tornando muito comum por causa dos smartphones.
O Rádio é um aparelho fascinante. Sempre seremos ouvintes de rádio, de uma
forma ou de outra. Não sei se você já percebeu, em filmes ou relatos, mas
quando acontece uma catástrofe, uma guerra ou qualquer coisa que o valha, o
aparelho de Rádio tradicional é o único que continua funcionando. Lembro-me de quando
houve aquele grande apagão aqui, em 2001, que tudo parou de funcionar. Estávamos
na rua, num boteco, bebendo; aquela escuridão... E só conseguíamos ter notícia
do que acontecia pelo rádio. Para mim, aquilo foi uma experiência apavorante e
ao mesmo tempo fantástica. Parecia que eu estava num filme, que tínhamos
voltado no tempo. É isso que eu sinto quando trabalho com rádio, que estou numa
máquina do tempo que eu posso conduzir para onde quiser somente através do som,
música, ruídos, textos, palavras. Desde criança sou fascinado por rádio. Como
eu disse, morava no interior. Lá não tinha FM: era só AM, ondas curtas... Dessa
forma, eu conseguia sintonizar emissoras do planeta inteiro. Viajava com isso.
Às vezes, pegava umas rádios russas... Não entendia nada, mas ouvia porque
gostava do som e da sensação que aquilo me dava. Durante esta infância, através
do rádio tive contato com diversos tipos de música. E isso foi decisivo na
minha formação. Inclusive meu interesse pela literatura veio também da música.
Trabalhar com pesquisa de material, anos mais tarde, foi só uma extensão do que
de certa forma eu já fazia na infância. O mais legal é poder compartilhar isso
tudo depois. Desta forma, eu fui parar por acaso no meio radiofônico. Nos anos
80, eu estudava Belas Artes na UFRJ. Uma fase muito complicada da vida, de
muita insatisfação, e no meio do nada acabei sendo convidado para fazer parte
de um projeto radiofônico. Comecei então minha carreira como radialista em
1985, trabalhando no que chamávamos de NAVE. Era uma espécie de acordo entre a
Rádio Fluminense AM e a universidade de comunicação da UFF. Acabei ficando como
uma espécie de braço direito da coordenadora, a jornalista e escritora Esther
Lúcio Bittencourt. Muito do que aprendi devo a ela. Durante nove meses fizemos
todos os tipos de experiência em rádio. Inventávamos um treco diferente por
dia. Experimentávamos o tempo inteiro. A Esther dava toda a liberdade para
isso. Os programas aconteciam de segunda a sexta, das 7h às 10h da manhã. Estas
experiências radiofônicas foram decisivas. Dali, eu soube por qual caminho
seguir. Foi tão forte que o rádio acabou me trazendo de volta para o mundo da
música. Tudo isso que fazíamos acabou justamente influenciando esteticamente o
meu primeiro trabalho com música eletrônica, o Saara Saara. Logo depois, fui
contratado como produtor na Rádio Jornal do Brasil, onde trabalhei com MPB e
jazz. Em seguida, foi a vez de me dedicar às emissoras de música clássica,
primeiramente a Rádio Opus 90 - e estou até hoje na Rádio MEC FM, onde entrei
como produtor executivo em 1997. Fui coordenador por alguns anos e hoje
permaneço ainda como produtor e programador musical. No estúdio Sinfônico da
MEC, já me apresentei algumas vezes como músico em alguns programas, como o
Sala de Concerto, por exemplo, onde eu e o pianista Glauco Baptista já fizemos
vários recitais ao vivo.
Com Federico, amigo fiel e inseparável. Foto: Facebook. |
CMIND - Como você
percebe a cena musical independente na cidade onde vive, Niterói, no Rio e no
Brasil? Que bandas e artistas você destacaria? Vivemos, no país, uma carência
de artistas criativos ou o problema é a falta de espaço na mídia convencional -
rádio e TV?
Sérvio Túlio - Olha, eu sou um cara de 52 anos muito,
mas muito resmungão. Mas não sou pessimista. Não sou nada chegado à nostalgia.
Gosto de ver coisas novas surgindo e, quando não consigo encontrar, fico
indócil. Vejo muita merda, mas também reconheço muita gente com trabalho bacana
aparecendo aí. Uns que já estavam e continuam firmes e outros que surgem no
cenário com ideias refrescantes. Niterói e Rio têm um lado que não curto,
extremamente careta, ranzinza, meio tradicional, com cheiro de mofo,
principalmente quando se fala de rock. Infelizmente é a maioria. Mas, em
compensação, tem uma outra turma que é super inquieta, que está sempre disposta
a experimentar coisas diferentes, misturar tudo, e que aí é maravilhoso. E nem
só de músicos profissionais. Não precisa ser aquele “músico” para fazer música
boa. Isso é lenda reacinha. Estes últimos 6 anos, devido a alguns problemas de
saúde, andei um pouco afastado de tudo, mas agora que tudo está bem de novo,
tenho corrido atrás do prejuízo. Não gosto de citar nomes porque a gente sempre
se esquece de um monte de amigos que ficam putos da vida com a gente depois,
hahaha. Então, vou falar assim meio mais ou menos e dos lugares onde as coisas
acontecem, como por exemplo, no estúdio do Bruno Marcus, o Tomba, a incrível
Tomba Orquestra e todos os músicos que lá frequentam e gravam; todos
sensacionais. Seres como Gilber T, Tata Ogan, Suzie Thompson, Suely Mesquita,
Luis Capucho; a rapaziada do The Knutz; toda a turma que gravou pela Astronauta
Discos, do Leonardo Rivera; as bandas que agitam as noites do Convés, a turma
da eletrônica, como o grande Leandro Salgueirinho, já com o seu segundo disco
aí, uma grande surpresa, Leandra Lambert e Alex Mandarino, o Felipe Castro,
poxa, é muita gente, não vou ficar falando todo mundo não, desculpem!
Foto: Facebook. |
CMIND - Na sua opinião,
atualmente, o "grande público" dita o que é tendência, através de
milhares de visualizações em plataformas como o youtube, ou há aquele
"empurrãozinho" de produtores e empresários, que só entendem de
cifras e não de música?
Sérvio Túlio - Não sou a pessoa mais adequada para
responder a essa pergunta porque, desculpe a expressão esdrúxula, eu sempre
“caguei” para o “grande público” e estou me lixando para empurrões de produtor,
empresário ou seja lá quem for. Nunca contei com nada disso; ainda mais depois
da chegada da internet. Eu e minha mania de tentar entender e decifrar
linguagens... Assim que eu percebi as possibilidades dos softwares, enfiei na
cabeça que queria aprender isso tudo. E foi o que fiz como autodidata mesmo -
já que na época os cursinhos não ensinavam as coisas que eu queria saber. Desta
forma, surgiram os primeiros blogs contendo algumas experiências com áudio e
vídeo, incluindo transmissões de rádio via web. Estas ferramentas mudaram o
conceito de comunicação no mundo. É importante para qualquer profissional hoje
em dia ter noção dessas coisas, senão fica para trás, dependendo da boa vontade
dos outros. E isso é um saco. E para mim, enquanto músico, é uma maravilha, já
que a mídia tradicional não divulga meu trabalho por não considerá-lo vendável.
Não tem problema. Faço isso eu mesmo.
Música é assim: você faz o seu trabalho, corre atrás das coisas, às
vezes conta com a ajudinha de amigos, às vezes não, grava, toca por aí, bota na
internet, faz o que tem que ser feito. Se gostam, maravilha, se não gostam,
amém, paciência. Se te dá prazer, continua, se não, desencana e vá fazer outra
coisa. Live and Let Live!
Conheça o trabalho do
músico e radialista Sérvio Túlio:
Kabarett
Berlin no Facebook:
Saara
Saara no Deezer:
Entrevista
realizada pelo jornalista Saulo Andrade.
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